top of page

Pesquisar

56 itens encontrados para ""

  • Eleições Legislativas 2022: Qual vai ser o próximo partido a formar governo?

    No dia 30 de janeiro os portugueses são chamados às urnas para elegerem os deputados da Assembleia da República. Um dos partidos (ou mais) a votos vai ainda formar governo para os próximos 4 anos. O jornal Invicto preparou um guia com os principais partidos e o que cada um defende nos respetivos programas eleitorais. Com o Orçamento de Estado (OE) para 2022 chumbado pela maioria dos deputados, o Presidente da República cumpriu aquilo a que se propôs: eleições legislativas antecipadas a 30 de janeiro. Em pleno período de debates e frentes-a-frentes, o futuro ainda é incerto, mas as perguntas já pairam no ar. Afinal, quais são os partidos que têm maior probabilidade de ocupar, pelo menos, um lugar no Parlamento, alcançando resultados semelhantes a 2019? PS O Partido Socialista (PS) tem o seu secretário-geral, António Costa, como cabeça de lista no círculo eleitoral de Lisboa. O atual primeiro-ministro caracterizou a crise política que chumbou o OE e levou à consequente queda do governo como “inoportuna” e de “uma grande irresponsabilidade”. Deste modo, em declarações à imprensa à margem de um encontro com apoiantes, António Costa assegurou que “a resposta a essa crise política é só uma: É garantir estabilidade para os próximos quatro anos e quem está em condições de o fazer é o PS”. Costa aposta numa maioria absoluta. O programa eleitoral do partido, consagra cinco pontos orientadores da próxima legislatura: uma boa governação, com contas certas e investimento na Saúde e Educação; o combate às alterações climáticas; garantia de respostas aos desafios demográficos, nomeadamente a conciliação do trabalho com a qualidade de vida; o combate às desigualdades, com o aumento dos rendimentos e a transição digital. Assim, algumas das medidas em concreto são: o aumento do salário mínimo nacional para 900 euros em 2026; a discussão de semanas de trabalho de quatro dias; um referendo à regionalização em 2024; e o alargamento do IRS Jovem. PSD Rui Rio, número dois da lista pelo Porto e líder dos sociais-democratas, frisou várias vezes no debate com o líder do CDS, transmitido na CNN, que “em termos de voto útil, quem não quiser o doutor António Costa como primeiro-ministro tem de votar no PSD”. No programa eleitoral do partido, está presente a regionalização do país e a revisão da lei da imigração para um sistema por pontos, focado nas qualificações e não só na origem do imigrante. O PSD propõe-se ainda a reduzir o IRS, o IRC, o IMI e o IVA da restauração nos primeiros dois orçamentos, caso vença as eleições. Na área da Educação, por exemplo, a grande novidade é a proposta de os diplomados que querem seguir carreira de professor, terem de fazer um estágio durante um ano, numa escola. Depois, um júri avaliará se estes reúnem condições para serem docentes. BE A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), em conversa com os jornalistas, disse que para a elaboração do programa eleitoral, o partido se inspirou num Sistema Nacional de Saúde (SNS) “mais centrado no utente e com menos burocracia, em que os profissionais se sintam mais valorizados e que possa responder aos desafios do nosso tempo”. Deste modo, Catarina Martins falou de uma reestruturação do SNS, que faça a prevenção da doença, estando preparado para atuar num “país envelhecido e com doença crónica” como é Portugal. No final de um encontro com o tema “A escola que queremos”, Catarina Martins avisou que "uma maioria do PS é um perigo para os professores". A coordenadora do Bloco acrescentou que “nós [partido] defendemos propostas muito claras para que haja professores nas escolas e todas as crianças e jovens tenham direito à sua educação e a uma educação da melhor qualidade”. No respetivo programa eleitoral, está presente a defesa de uma contínua “formação pedagógica adequada à formação inicial dos professores” e que se respeite a carreira de quem trabalhou “toda uma vida”. Assim, a coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, numa visita a Odemira, disse ser possível ter o partido “reforçado como terceira força política”. CDU Numa sessão pública da histórica coligação que junta o PCP e o PEV, Jerónimo de Sousa afirmou que em várias áreas “o que garantiu no passado e garantirá no futuro a possibilidade de novos avanços é a força da CDU”, contrariando a ideia de uma maioria absoluta socialista. O secretário-geral do PCP também criticou a direita, acusando-a de querer “a política do negócio da doença e do seu tratamento e nela não cabe a prevenção da doença e a promoção da saúde, que só o SNS está em condições de garantir de forma integrada”. Para os comunistas, esta política apenas enfraquece o SNS, explora os grupos mais necessitados e põe o Estado a sustentar os hospitais privados. O PCP reafirmou a atualidade e validade do seu programa eleitoral de 2019, mantendo-o para estas eleições, acrescentando o “Compromisso Eleitoral” do partido. Assim, a CDU defende o aumento geral dos salários, nomeadamente do salário médio, concretizando a “convergência com a zona Euro em 5 anos”; o aumento e universalização do abono de família e do abono pré-natal e valorização de outros apoios sociais à infância e à juventude; repor a idade de reforma aos 65 anos; alargar os critérios de atribuição, o valor e a duração do subsídio de desemprego. CDS-PP Em entrevista à agência Lusa, Francisco Rodrigues dos Santos garantiu que o CDS é o partido que pode permitir que o PSD forme governo, não descurando o apoio da Iniciativa Liberal, mas nunca do Chega. No entanto, o líder dos democratas-cristãos asseverou que “o CDS e o PSD devem alimentar a ideia de poder sozinhos conseguir governar o país”, pois “de acordo com a nossa tradição democrática nós nunca precisamos de outras forças políticas para ter uma maioria parlamentar”. Já na apresentação do programa eleitoral, o presidente do CDS declarou que “o único voto útil, para quem quer um governo de direita em Portugal, é um voto no CDS”. algumas das medidas incluídas no documento são: o reforço das pensões no inverno para ajudar os idosos a pagar a fatura da luz; a descida de um escalão de IRS para as famílias, a partir do segundo filho; a redução do IRC para 15%, até ao final da legislatura; a isenção de impostos na compra da primeira habitação; criar benefícios fiscais à contratação no sector primário; e contratar 9.000 efetivos para as forças de segurança. Para sustentar as medidas do partido, Francisco Rodrigues dos Santos defende a privatização de todas as companhias de transportes, pois “os privados fazem melhor e mais barato e poupam ao erário público”, esclareceu à Lusa. PAN A líder do PAN, em entrevista à agência Lusa, reiterou a disponibilidade para integrar um governo: “se efetivamente queremos fazer avançar as nossas causas, temos de ter a capacidade de diálogo e a capacidade de negociar”. Uma eventual aliança pós-eleitoral é independente “daquela que seja a composição da Assembleia da República”. O limite para consensos políticos são os “populismos antidemocráticos”, ou seja, o partido Chega. Porém, Inês Sousa Real reconheceu que pode haver “dificuldades” com o CDS. Na apresentação dos cabeças de lista do partido, Inês Sousa Real caracterizou o partido como uma “alternativa progressista, feminista, ambientalista e animalista”, mas também “construtiva, responsável e capaz de fazer pontes”. Numa entrevista à rádio Renascença e ao jornal Público, a líder do partido abordou a poluição nos rios, essencialmente em Leiria, com as descargas de efluentes pecuários, a exploração do lítio, em Viseu e Castelo Branco, e o aeroporto do Montijo numa zona de interesse comunitário, como assuntos prioritários. O partido propõe-se a acabar com os paraísos fiscais; a apoiar as empresas, social e fiscalmente com alívios e incentivos, promovendo a transição energética; e a rever os escalões do IRS. Um bom resultado nas eleições legislativas para o PAN seria manter os quatro deputados eleitos em 2019 – mais tarde, Cristina Rodrigues, passou a deputada não-inscrita – e alargar as geografias dos seus eleitores. Chega “Por um novo regime democrático: Deus, Pátria, Família e Trabalho” é com esta frase que o Chega se apresenta na corrida a São Bento. No seu programa eleitoral, o partido liderado por André Ventura quer aplicar uma reforma no sistema fiscal e judicial, apresentando propostas na área da Saúde, Imigração e Educação, e propõe-se a criar um Ministério da Família, “para assegurar a reconstrução moral, cívica, cultural ou económica da família”, lê-se no documento. O Chega quer duplicar as penas na grande maioria dos crimes de corrupção e quer aumentar as "molduras penais máximas dos crimes de abusos sexuais de menores e nos crimes de violação", fazendo referência à promulgação da prisão perpétua, apesar de ser inconstitucional. Ventura quer a extinção do IMI a "médio prazo", que designou de "imposto mais estúpido do mundo", a introdução progressiva de uma taxa única de IRS e a descida do IRC. O líder do partido anunciou a proposta de reverter “as normas de discriminação positiva que abranjam minorias". No seu programa, o Chega ainda incluiu o reforço da autoridade das escolas, dos professores e dos polícias e o corte em 45% no número de cargos políticos. André Ventura propõe a criação de quotas, para que Portugal selecione "imigrantes com determinada formação, como médicos e enfermeiros", permitindo a entrada apenas a alguns indivíduos. No evento de apresentação do programa eleitoral, André Ventura advertiu o PSD de que o Chega "não participará em nenhum governo que volte a cortar pensões como ocorreu entre 2011 e 2015", como no tempo da Troika e de Pedro Passos Coelho. Iniciativa Liberal Para a Iniciativa Liberal, "só o crescimento económico permitirá dar mais oportunidades aos portugueses e permitir finalmente que haja salários dignos em Portugal". Para tal, João Cotrim de Figueiredo, na apresentação do programa eleitoral do partido definiu como "prioridade política máxima" pôr o país "a crescer". Formado por 100 medidas, o diploma refere: reformas na Saúde e na Justiça; redução da carga fiscal e privatizações da TAP, da Caixa Geral de Depósitos e da RTP. Assim, o partido quer uma reforma estrutural do SNS, através de uma nova Lei de Bases da Saúde originando um sistema misto, com recurso a prestadores privados, sociais e públicos. Outras medidas são a definição de uma taxa única de IRS de 15%, a redução do IRC para 15% e a eliminação da Taxa Social Única para os empregadores que reverte, de forma direta e gradual, no salário das pessoas. Na área da Justiça, a Iniciativa Liberal defende a transparência na contratação pública e a “reforma da organização das magistraturas, com inclusão de independentes nas mesmas, a fusão do Conselho Superior da Magistratura, dos Tribunais Administrativos e Fiscais e do Ministério Público” e o alargamento do apoio judiciário àqueles que não tinham possibilidades económicas para pagar a justiça. Livre O presidente do Livre, Rui Tavares, lançou a ideia de se formar uma "eco-geringonça" na qual o seu partido, o PAN e o PEV se juntem ao PS para atingir uma maioria parlamentar. No entanto, numa entrevista à agência Lusa, Rui Tavares, afirma que a alternativa preferida do partido continua a ser "um entendimento o mais amplo possível à esquerda, multilateral, multipartidário", que resultasse em acordos assinados. O presidente do partido salvaguardou que “um voto no Livre é um voto que nos livra desses dilemas [maioria absoluta ou bloco central]". O programa eleitoral do partido abarca a subida do salário mínimo nacional para mil euros até ao final da legislatura; um plano de reconversão do edificado, "baixando a fatura da energia e ajudando a salvar o planeta"; uma nova modalidade de transporte público, baseada numa rede de transportes escolares; e a criminalização de comportamentos e práticas racistas, através das alterações à Lei n.º 93/2017 e ao Código Penal, “que proíbe as discriminações com base em raça, cor, nacionalidade ou origem étnica”, punindo-as, atualmente, apenas como contraordenação. O Livre atualmente já não tem nenhum representante na Assembleia da República, depois de Joacine Katar Moreira ter passado a ser deputada não inscrita, por o partido lhe ter retirado a confiança política. Rui Tavares, presidente do partido, tem sido considerado por muitos como a surpresa da temporada de debates, devido à grande preparação que demonstra ter para enfrentar os restantes líderes partidários. 21 forças políticas distribuídas por 22 círculos eleitorais De acordo com informação da Comissão Nacional de Eleições (CNE), o círculo eleitoral com mais candidaturas apresentadas é Lisboa, com 21, e o com menos candidatos é Bragança, ficando-se pelos 14. Porto, Setúbal e o círculo da Europa contam com 20 candidaturas e o círculo Fora da Europa com 19. Por sua vez, Aveiro, Braga, Castelo Branco, Coimbra, Évora, Leiria e Viseu apresentam 18 candidatos. Beja, Faro e Portalegre têm 17. Finalmente, em Santarém, Viana do Castelo, Vila Real e Madeira, os eleitores vão escolher entre 16 candidatos, enquanto na Guarda e nos Açores a escolha cinge-se a 15 forças políticas. Os 8 partidos com assento parlamentar (PSD, PS, BE, CDS-PP, CDU, PAN, Chega e Iniciativa Liberal) candidatam-se aos 22 círculos eleitorais que existem no total. O Livre, o MPT, o RIR, o Ergue-te e o MAS também seguem o mesmo modelo. O partido estreante, Volt Portugal, concorre a 19 círculos eleitorais, o PTP a 16, o ADN a 13, o PCTP/MRPP e o Nós, Cidadãos! a nove. O Aliança, fundado pelo ex-primeiro-ministro Pedro Santana Lopes, aparece em sete boletins de voto e o JPP, em seis. Há ainda quatro coligações candidatas. A veterana CDU, a coligação “Madeira Primeiro”, que junta o PSD e o CDS apenas no círculo eleitoral da Madeira e a Aliança Democrática (une o PSD, ao CDS e ao PPM), em marcha nos Açores. Como, quando e onde votar? Este ano, ao todo, 10.821.244 eleitores, maiores de 18 anos, são chamados às urnas. Devem estar identificados com o cartão de cidadão ou outro documento oficial com uma fotografia atualizada, como passaporte ou carta de condução, e devem ser acompanhados por uma máscara e caneta. Os portugueses podem votar entre as 8h e as 19h. Para saber o local e mesa de voto, os eleitores devem consultar o site do governo, ou enviar um SMS para o 3838 com a mensagem: RE (espaço) número de CC/BI (espaço) data de nascimento (AAAAMMDD). Também é possível ligar para a linha de apoio ao eleitor (808 206 206) ou informar-se na respetiva junta de freguesia. O voto antecipado está disponível para diversas situações: eleitores recenseados em território nacional em regime de mobilidade; deslocados no estrangeiro; internados ou presos; em lares ou em confinamento devido à Covid-19. É apenas necessário fazer um pedido por via postal ou através do site criado com esse propósito. Os prazos para pedir e para votar antecipadamente diferem consoante a conjuntura. As eleições legislativas para eleger os deputados à Assembleia da República são a 30 de janeiro de 2022. Artigo escrito por: João Múrias

  • Invictamente andam os homens pelos espaços vazios da cidade

    Sempre eles, eu / nada digo, Porto, vejo / só as tuas cores as tuas / gentes / os palavrões verdadeiros. / A boa Humanidade. [Bolhão] Invictamente andam os homens pelos espaços vazios da cidade passam, pisam, vendem, falham, furam, acenam, dão, pedem, trocam Trocam tintas, mas não as tuas, Porto, que o Douro ainda tem ´ o azul invicto, dizem eles. [Campo 24 de agosto] Sempre eles, eu nada digo, Porto, vejo só as tuas cores as tuas gentes os palavrões verdadeiros. A boa Humanidade. [Heroísmo] e vou com o Douro, autêntico, reluzente, espelho, com a maré de gentes com o fluxo dos suspiros que contam histórias de raiva paixão abdicação resiliência histórias quotidianas de sacos das compras [Campanhã] Regresso a casa, e como o rio corre invariavelmente para a foz, também eu corro invariavelmente de volta. [Trindade, ligação com autocarro] Escrito por: Carolina Bastos

  • De uma cidade grande para outra, fui acolhida. E que bem acolhida fui

    "Desde o primeiro dia que digo, e até hoje não deixa de ser verdade, “Desculpa Lisboa, mas Porto, conquistaste-me”. De uma cidade grande para outra, fui acolhida. E que bem acolhida fui. Tornaste os meus receios em alegrias, a minha aventura em paixão. Paixão, sim, porque como não ficar apaixonado por ti, Porto? Agarraste-me pela tua beleza, uma sem igual, pelos teus habitantes e pelo teu sotaque, que todos os dias me aquece e me faz sentir mais em casa. Sempre que me vou embora, sussurras-me para voltar e eu assim o faço, num sentimento de êxtase e euforia por para ti regressar. Desde o primeiro dia que digo, e até hoje não deixa de ser verdade, “Desculpa Lisboa, mas Porto, conquistaste-me”. Escrito por: Maria Barradas

  • Desorientada, passeio pelas ruas da cidade sem pensar onde nem quando

    "É minha, nossa, tua. É a Invicta, mui nobre e leal." Desorientada, passeio pelas ruas da cidade sem pensar onde nem quando. Ando apenas, passeio somente. Sinto o cheiro, a alma, a voz de cada um que por mim passa, mas alguma coisa me abraça, me embala, canta para mim tudo o que considero belo. Essa coisa não tem meio nem medida, essa coisa diz quando tem de ser, não se cala. É festiva do início ao fim, do princípio ao final ela é cor, é leal, é grandiosa. É nevoeiro, sol e chuva, é gente e solidão. É minha, nossa, tua. É a Invicta, mui nobre e leal. Escrito por: Lara Castro

  • Ser sincero ou “Politicamente Correto”?

    Quem quer combater o Politicamente Correto quer continuar a discriminar, sem ter a resistência desta maioria, que antes era silenciosa. A questão presente no título passou a ser bastante recorrente entre as pessoas que perpetuam um discurso discriminatório, acabando por comprometer a mudança que o Politicamente Correto quer incentivar: evitar expressões que possam ser consideradas como ofensivas para determinados grupos sociais. Atualmente, o Politicamente Correto ocupa um espaço muito grande e polémico no seio do debate público, tendo sido apropriado por diferentes quadrantes políticos. De um lado, temos quem defenda que o argumento do Politicamente Correto não existe e é apenas um conceito criado pela direita conservadora para evitar os progressos sociais que a esquerda invoca. Do outro, há quem reclame que “já não se pode dizer nada”, queixando-se do ataque à liberdade de expressão. É óbvio que o Politicamente Correto não pode ser levado ao extremo, aliás, nada deve ser levado ao extremo, mas não devemos descorar a defesa dos direitos das classes minoritárias e/ou oprimidas. Há certas palavras que ofendem um determinado grupo e quem estabelece uma linha entre aquilo que é ofensivo daquilo que não é, é o próprio grupo, não o grupo dominante e/ou opressor. O principal grupo privilegiado, o homem branco, heterossexual, com poder económico, não pode achar que, por exemplo, ao dizer “homossexual” em vez de “maricas”, a sua liberdade de expressão está a ser limitada, pois como se diz, a nossa liberdade acaba quando a do outro começa. Repreendemos aquelas pessoas que agridem ou excluem alguém por causa do sexo, orientação sexual, identidade de género ou etnia, mas não o fazemos quando as palavras estão mascaradas de piadas. Nós vivemos em sociedade e, como tal, temos de estar conscientes dos preconceitos sociais e rejeitá-los. Estes preconceitos não se manifestam, apenas, através dos nossos comportamentos e ações, mas também através da nossa linguagem. Todas as mudanças e lutas sociais requerem esforço. Este é só mais um. Escolhemos combater as desigualdades, com a simples alteração do vocabulário quotidiano, contribuindo para a inclusão destes grupos, ao evitar expressões homofóbicas, racistas, xenófobas ou machistas. O Politicamente Correto deve existir per si ou como complemento a uma introspeção, promotora de igualdade e dignidade da pessoa humana. Ser “Politicamente Correto” e usar uma palavra “mais aceitável”, mas continuar a acreditar em ideias preconceituosas não é o objetivo final. Quem quer combater o Politicamente Correto quer continuar a discriminar, sem ter a resistência desta maioria, que antes era silenciosa. Artigo escrito por: João Múrias

  • Dez medidas que caíram com o Orçamento de Estado

    O Orçamento de Estado foi chumbado no dia 27 de outubro. PSD, CDS, IL e Chega, mas também BE e PCP votaram contra, contando unicamente com o voto a favor do partido socialista. Muitas medidas, anteriormente debatidas, caíram com a “geringonça” e outras nem oportunidade de ir para o terreno vão ter. 1. Dois novos escalões do IRS O IRS ia passar a ter nove patamares de rendimento em 2022, ao desdobrar o terceiro e o sexto escalão. A medida consistia que a taxa de IRS dos rendimentos dos 10.736 euros aos 15.216 euros passasse de 28,5% para 26,5%; e a taxa de IRS dos rendimentos coletáveis entre os 36.967 euros e os 48.033 euros passasse de 45% para 43,5%. A proposta aliviaria cerca de um milhão e meio de famílias. 2. Reforço do programa IRS Jovem O programa IRS Jovem, que abrange três anos, ia ser alargado para cinco anos, incluindo, nesta proposta, trabalhadores independentes. O Código do IRS prevê que um jovem trabalhador beneficie de uma isenção sobre 30% do rendimento nos primeiros dois anos, 20% nos terceiro e quarto anos e 10% no quinto ano. O reforço ia ser automático, reduzindo o imposto a pagar pelos jovens que concluem os graus de ensino. 3. Aumento das bolsas de estudo de mestrados Era previsto que o valor das bolsas de estudo de mestrado para jovens carenciados triplicasse. Estes alunos teriam direito a uma bolsa de estudo que podia chegar a 2.400 euros (atualmente, chegam a 800 euros). A intenção era democratizar o acesso aos mestrados em Portugal, uma vez que os custos de alguns são extraordinariamente elevados. 4. Aumento salarial aos funcionários públicos Os salários de todos os funcionários públicos iam subir 0,9% a partir de 2022 devido à inflação anual registada para recuperar a atualização geral dos salários. 5. Reforço do orçamento do SNS A proposta previa um investimento de mais de 700 milhões de euros (6,7%) para a Serviço Nacional de Saúde. Contudo, o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, expôs que não era um valor suficiente para o setor. A medida regia-se pela rápida recuperação da “atividade assistencial, através da contratação adicional de profissionais de saúde e do ganho de autonomia dos serviços de saúde para contratarem profissionais em falta", lê-se no relatório do OE2022. 6. Extensão da dedução do IRS para quem tem mais de dois filhos A medida de dedução do IRS para quem tem um segundo filho ou mais já estava implantada até estes atingirem os três anos. Agora, propunha-se alargar, de forma faseada, a dedução até o filho atingir os seis anos. Cada filho representa a redução de 600 euros no IRS dos pais – 300 euros caso estejam separados, divorciados ou entreguem o IRS em separado. Esta dedução não sofre alterações. 7. Aumento extraordinário para os pensionistas Os pensionistas deixam de beneficiar do aumento extraordinário de 10 euros das pensões com valor até 1.097 euros que era previsto para janeiro, uma medida que ia abranger cerca de 2,3 milhões de pensionistas. A proposta que visa a antecipação da reforma, sem penalizações de quem tem mais do 80% de incapacidade e mais de 60 anos, também fica pelo caminho. 8. Congelamento de rendas antigas por mais um ano Previa-se que os contratos de arrendamento antigos, anteriores a 1990, permanecessem inalterados por mais um ano. Continuariam a vigorar as regras deste período transitório, durante o qual o valor da renda não pode ultrapassar o valor anual correspondente a 1/15 do valor do locado. Só em 2023 é que se verificaria a entrada em vigor da lei dos arrendamentos. 9. Prazo de pagamento alargado para empresas com dívidas fiscais As empresas que têm dívidas fiscais poderiam pagá-las durante os próximos 60 meses. Caso dispensem garantia, estes planos prestacionais seriam feitos de forma automática pela Autoridade Tributária. 10. Reforço nos transportes públicos Na proposta do Orçamento do Estado para 2022, o Governo estipulava um reforço de quase mil milhões de euros na rede de transportes públicos. O investimento encruzava os projetos de modernização da ferrovia, de expansão das redes de metropolitano e de reforço das frotas das empresas públicas de transporte. Também tinha sido proposto um reforço de 138 milhões de euros para o Programa de Apoio à Redução Tarifária nos Transportes Públicos (PART). Marcelo Rebelo de Sousa já tinha adiantado que, caso o Orçamento chumbasse, ia dissolver a Assembleia da República. No dia 5 de dezembro o Presidente da República tornou oficial o que já era esperado: parlamento dissolvido e eleições legislativas antecipadas a 30 de janeiro. Foi a segunda vez que um Orçamento de Estado chumbou no parlamento, mas a primeira que gerou eleições antecipadas. Artigo escrito por: Inês Cristina Silva

  • Mais de 80% das vítimas de violência doméstica em Portugal são mulheres

    No Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres, a Faculdade de Letras da Universidade do Porto foi palco de uma ação de sensibilização da PSP sobre aquela que é “a violação dos direitos humanos mais prevalente no mundo”. Os números da violência doméstica em Portugal continuam a ser “avassaladores”. Por isso, a Polícia da Segurança Pública (PSP), através das Equipas da Proximidade de Apoio à Vítima, está a dinamizar sessões de sensibilização sob o mote “A violência fica à porta”, com o objetivo de alertar para o problema da violência doméstica, bem como esclarecer o que é e quais os meios que estão ao dispor dos cidadãos para escapar deste tipo de situações. Na quinta-feira, 26 de novembro, Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres, a Faculdade de Letras da Universidade do Porto acolheu uma dessas sessões, orientada pelo chefe Carlos Soares a quem coube dar nota de alguns dos dados que fazem desta uma realidade preocupante em Portugal. E não só. Afinal, esta é, como a caracterizou o agente de autoridade, “a violação dos direitos humanos mais prevalente no mundo”. Em Portugal, entre 2014 e 2020, existiram ligeiras variações no número de casos, mas os valores foram sempre altos. O ano de 2020 fechou com 14.619 vítimas de violência doméstica, na sua larga maioria contra mulheres (mais de 80% das vítimas). A prevalência do género inverte-se quando em causa estão os agressores. Já este ano, até outubro, e de acordo com dados disponibilizados no mesmo dia pela PSP, foram feitas 11.449 participações relacionadas com este crime, notando a polícia que apesar de se registar uma tendência de diminuição no número de casos “tem-se constatado um aumento do número de detidos, tendo a PSP registado 557 detenções em 2019, 723 detenções em 2020 e 732 detenções no presente ano.” “Denunciar” é o primeiro passo De acordo com Carlos Soares, denunciar é a palavra-chave e o ato essencial para que possa haver responsabilização. “Quando tivermos conhecimento de uma situação, nós não podemos facilitar, temos de denunciá-la. Não podemos esconder isso, porque se a escalada de violência iniciou, não vai parar mais”, referiu perante uma plateia despida de gente para ouvir a mensagem. Carlos Soares explicou que a PSP tem equipas especificas de proximidade e apoio à vítima no que diz respeito à violência doméstica. As esquipas “desempenham funções fundamentais no que concerne ao diagnóstico de segurança, ao atendimento e ao apoio às vítimas de crime e mantêm-se à disposição da comunidade, aconselhando métodos de autoproteção”, esclareceu. À margem da sessão, e em declarações ao JPN/jornal Invicto, o agente de autoridade disse acreditar que o fim da violência doméstica – só é um crime público desde o ano 2000 – está dependente da educação, sobretudo a que a criança tem no seio familiar e no ambiente escolar. Carlos Soares referiu ainda, a propósito da importância da denúncia, que “o agressor domina a vítima” e, portanto, é preciso a colaboração da sociedade relativamente ao reporte às autoridades e recordou que é preciso não esquecer que os efeitos do controlo coercivo sobre as vítimas passam também por efeitos psicossomáticos (o medo e a tensão), psicossociais (a vergonha e o sentimento de culpa) e comportamentais (a submissão, as hesitações e o nervosismo). Dito de outro modo: o conceito de violência doméstica é, na opinião de Carlos Soares, “visto de forma superficial”, porque “fala-se [de violência doméstica] quando sabemos que a pessoa foi agredida fisicamente, e muitas vezes a violência doméstica é verbal e silenciosa”. PSP sensibiliza em várias áreas Apesar da realização desta sessão ter sido motivada pela data, este tipo de ações da PSP acontecem frequentemente, em locais como escolas ou outras instituições. Para além de sessões sobre a violência doméstica, existem também apresentações sobre a violência no namoro, bullying ou sinistralidade rodoviária. “Informamos o público em geral, através das escolas ou outras instituições, e se pretenderem que sejam feitas, nós efetuamos dentro da disponibilidade que temos e agendamento que podemos realizar”, disse ainda Carlos Soares. Artigo escrito por: Inês Cristina Silva e Mafalda Barbosa Artigo publicado originalmente no jornal online JPN

  • 2021: O triunfo dos portugueses

    De 2021 recordaremos sempre a linha tênue que separa um dilúvio de adeptos em festejos, numa noite de maio, e um estádio vazio, lá no outro canto do globo, em Tóquio. É certo que, os atletas da pequena nação lusa, transformaram o vírus numa oportunidade, soltaram um grito possante e conquistaram, com brio, as terras impetuosas do desporto mundial. Afinal somos gigantes! No ano 2021, a covid-19 voltou a atacar o desporto mundial. Contudo, para Portugal, o prelúdio foi banhado de proezas heroicas. As infindas vitórias impeliram aos lusitanos unificar o seu apoio a espaços como o atletismo, passando no campo de basquetebol e sobrevoando a pista dos desportos motorizados. Do outro lado do oceano, chovem estrelas portuguesas carregadas de sucessos e êxitos. A "Portuguesa" ecoa nos quatro cantos de um mundo que já se faz pintar de cores lusas. Os Jogos Olímpicos da pandemia foram também os melhores de sempre para Portugal. Pela 1.ª vez na história o país amealhou 4 medalhas olímpicas. 2021 foi mais uma página banhada em ouro do extenso livro de conquistas portuguesas. O povo luso certamente irá continuar a vibrar com os feitos épicos em desportos que cada vez mais granjeiam expressão popular. Recordes por bater, classificações por melhorar: é altura de (continuar) a fazer o que ainda não foi feito. Jorge Fonseca, o "king" do judo Jorge Fonseca derrotou a pobreza, "fintou" o cancro, teve um filho, levou duas vezes o ouro ao pescoço e empunhou a glória olímpica. Nasceu em São Tomé e Príncipe e com apenas 11 anos aterrou em Portugal. Foi aqui que, o atleta do Sporting Clube de Portugal, descobriu a paixão pelo judo e agigantou o seu potencial. Até chegar ao estrelato da modalidade, o judoca percorreu um caminho íngreme e rugoso. Passou por uma paternidade precoce (com apenas 17 anos) e esbateu-se num temeroso tumor na perna aos 22 anos, mesmo assim Jorge Fonseca nunca baixou os braços e tornou-se numa inegável prova de superação. Em 2013, o judoca “subiu ao tatami” para se tornar o primeiro atleta masculino português a alcançar o título de Campeão da Europa no escalão sub-23. No ano de 2020, em Tóquio, dominou a competição continental e trouxe-se, pela primeira vez, o ouro para as terras portuguesas. Este ano voltou a levar a bandeira portuguesa mais longe repetindo o feito. Desta vez em Budapeste, o atleta venceu todos os confortos por ippon e conquistou o desígnio de bicampeão mundial de judo (100kg). O judoca português encerrou 2021 com a cereja no topo do bolo ao arrecadar a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos (categoria -100kg), apenas a terceira na modalidade. O lutador, dentro e fora do “tatami”, não conhece limites e batalha para ser o melhor de todos os tempos. Jorge Fonseca tem-se afirmado como um dos nomes mais temidos no universo do Judo. O atleta do SCP emergiu do fundo do oceano, resistiu a fortes tempestades e navega, sempre, rumo à vitória. Patrícia Mamona, um "salto" para o topo português Norteada por José Uva, Patrícia Mamona "voou" em 2021: ao título europeu somou-se uma medalha olímpica, à boleia de um novo recorde nacional. Foi no Cacém, em Sintra, que Patrícia chamou a atenção do treinador de atletismo, José Uva, que logo a imbuiu a praticar o desporto. A partir daí o êxito "saltou" sempre de mãos dadas com a atleta portuguesa e as conquistas no triplo salto foram acontecendo. Bateu pela primeira o recorde nacional em Helsínquia (2012), quando foi vice-campeã europeia, e pela segunda em Amesterdão (2016), quando venceu o ouro. Já nos Jogos Olímpicos de Verão Rio 2016 terminou a prova em sexto lugar, com a marca de 14,65m (mais uma vez recorde nacional). O ano de 2021 começou por bater de frente com Patrícia Mamona. Testou positivo à Covid-19 na antecâmara dos Europeus em pista coberta, tornando-se num obstáculo que quase a tirou da competição, nos quais viria ocupar o lugar mais alto do pódio. No europeu “indoor” em Torun, na Polónia, a triplista estabeleceu um novo recorde luso de triplo salto, com o novo máximo de 14,66m, consagrando-se campeã europeia de pista coberta. As gotas de suor em Torun espelharam o esforço e a técnica polida de cinco anos de trabalho, mas o melhor ainda estava por fazer, a 11 000km de distância da capital portuguesa. Patrícia Mamona cumpriu com a forte esperança dos portugueses numa medalha e foi prata no triplo salto, nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020. A atleta fechou 2021 com a chave de ouro, ao bater o recorde nacional, graças a uma marca de 15,01m. Uma vida inteira dedicada ao atletismo levou-a ao topo da modalidade e afixou-a no pedestal das lendas eternas a que já se habituou. Patrícia Mamona vai escrevendo a sua história através de linhas vitoriosas e repletas de glória. O objetivo é levar o recorde nacional às estrelas. Fernando Pimenta rema até à eternidade Fernando Pimenta é o rosto mais conhecido da canoagem portuguesa. Natural de Ponte Lima, Viana do Castelo, traçou um legado astronômico e, ao longo do seu trilho, amealhou mais de 100 medalhas internacionais. Encarou a derrota do Rio2016 e, na felicidade da paternidade, terminou o ano de 2021 com mais uma mão cheia de triunfos. À medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Londres2012, em dupla com Emanuel Silva, o canoísta adiciona igualmente medalhas numa panóplia de competições mundiais e europeias. Para Fernando Pimenta, o dia 27 de setembro de 2020 ficará gravado na lápide do sucesso, ao conquistar a 100.ª medalha internacional – ouro na Taça do Mundo de velocidade de Szeged, em Hungria. Depois do feito centenário, o canoísta do Benfica iniciou o ano de 2021 com uma medalha de prata nos Campeonatos da Europa (Poznan), em K1 1000m, e uma medalha de bronze, em K1 5000m. Aproveitando a oportunidade para remar a favor do estatuto de herói nacional, Pimenta apanhou a onda dos Jogos Olímpicos de Tóquio e conquistou o bronze, em K1 1000m. O ouro já corre no sangue de Fernando Pimenta. Depois do bronze olímpico, o canoísta cumpriu a promessa, de que ia dar tudo no mundial, feita aos portugueses. No reencontro com o húngaro Kopasz, em Copenhaga, Pimenta empunhou a medalha de ouro nos 1000m e sagrou-se campeão do mundo pela segunda vez. Ao ouro, o canoísta juntou uma medalha de prata em K1 5000m. Num espaço de apenas dois meses e meio, o atleta português registou um trajeto de vitórias brilhante, uma proeza sem par, à altura de predestinados. As possantes pagaiadas de Fernando Pimenta desaguam num contributo infindável para o crescimento da canoagem portuguesa e das restantes modalidades náuticas de Portugal. Pedro Pichardo, duas asas de puro ouro Antes do nascer do sol em Portugal, o triplista garantia para as cores lusas, aquelas a que chamou de suas desde 2018, o melhor desempenho de sempre da terra lusitana nos Jogos Olímpicos. Nasceu no país das Caraíbas e, posteriormente, mudou-se para a capital de Cuba, Havana. O filho de Jorge Pichardo, treinador de atletismo, encantou-se desde tenra idade pela arte do triplo salto. O primeiro choque com a capital cubana deu-se, após a proibição de Jorge Pichardo em treinar o seu filho já de 21 anos. Apesar da conquista de duas medalhas de prata nos Mundiais de Moscovo e Pequim, e ouro nos Jogos Pan-Americanos, no Canadá, não se delongou até surgirem novos conflitos e desentendimentos entre Pichardo e o país da América Central. 2017 foi o ano determinante na carreira de Pichardo. Em abril, abandonou a comitiva cubana, fez de Portugal a sua nova casa e do Benfica a sua morada de treino. No final do ano, principiou o processo para se naturalizar português e saltar com a bandeira lusa ao peito, que se concluiu em 2018. 2021 foi coroado um ano de opulência. Em estreia das cores portuguesas, Pedro Pichardo inicia o Campeonato Europeu de pista coberta com a vitória no triplo salto e o ouro no bolso. Como era de esperar, o triplista foi apontado como favorito ao ouro nas Olimpíadas de Tóquio. Noite cerrada em Portugal, o favoritismo acabaria por se comprovar, trazendo ao país a primeira medalha de ouro nos Jogos Olímpicos desde 2008, e batendo o recorde nacional com a marca 17,98m. O ouro nas Olimpíadas soube-lhe a pouco, uma vez que o seu pai e treinador tinha posicionado a fasquia na marca histórica dos 18 metros. No entanto, Pedro Pichardo deixou a sua pegada na caixa de areia e agigantou-a, enternecendo o apoio de uma nação que agora carrega ao peito. Neemias Queta, o primeiro português a pisar a NBA Por mares nunca antes navegados, Neemias Queta pisou solo desconhecido ao basquetebol português e conseguiu um feito que nenhum outro atleta conseguira até então. O poste luso foi o primeiro português escolhido no Draft da NBA e tornou-se o primogênito a jogar na maior Liga de basquetebol do mundo. Nascido em Lisboa, foi aos 10 anos que driblou pela primeira vez. O atleta iniciou a carreira no FC Barreirense, clube da terra onde cresceu, e jogou até à temporada 2016/17. Na temporada 2017/18, vestiu a camisola do SL Benfica e realizou 29 jogos na equipa B e 4 jogos pela equipa principal. Um oceano separava-o do sonho, mas a sorte estava do seu lado. Em agosto de 2018, rumou aos Estados Unidos da América para se juntar à equipa universitária, Utah State. Em 2019, com a seleção nacional, venceu a 2ª Divisão do Europeu de sub-20. O dia 30 junho de 2021 ficou marcado para a história portuguesa. Neemias Queta foi a 39ª escolha do Draft da NBA e, assim, o primeiro jogador português a atuar na Liga norte-americana de basquetebol. O clube selecionado foi o Sacramento Kings, da Califórnia. Ao escolher o número 88 estampou nas costas as raízes que lhe carregaram até à estrada do sucesso, pois vestia o número 8 no Barreirense. A 14 de agosto, o clube californiano, ganhou o torneio de verão, NBA Summer League. A espera portuguesa acabou. Foi durante a madrugada do dia 18 de dezembro que o poste luso, de 22 anos, se tornou no primeiro português a entrar oficialmente em campo num jogo da NBA. Frente aos Memphis Grizzlies, Neemias Queta jogou oito minutos e estreou-se com cinco ressaltos ganhos, uma assistência e um desarme de lançamento. Neemias Queta cumpriu o seu e o sonho de uma nação ao mostrar credenciais inigualáveis para estrear um país na NBA. É certo que escreveu história e carregou o orgulho nacional para o outro lado do oceano. Miguel Oliveira, um falcão sobre duas rodas Sem surpresas, Miguel Oliveira voou a todo o gás do seu ninho, Almada, e aterrou em mais uma temporada impetuosa e de consolidação no hall of fame de duas rodas. Nasceu para os triunfos e para brilhar nos holofotes do Moto GP, contornando as curvas e contracurvas do "palco" a que chama de casa. Recebendo aplausos fulgurantes pela terceira vez. O piloto luso deu os primeiros passos no Mundial de Moto3, no ano de 2011, e arrecadou os primeiros dois pódios. No ano seguinte, deu-se a escalada à categoria intermédia, a Moto2. Em 2017, com a KTM, amealhou o título de vice-campeão. O excecional percurso, alcançado ao respaldo da marca austríaca, conduziu o piloto português para a subida à principal categoria do motociclismo, o MotoGP, em 2019. 2020 foi um ano astronómico para o desportista de Almada. No mês quente, agosto, Miguel Oliveira triunfou no Grande Prémio de Moto GP da Estíria, na Áustria. Depois do seu primeiro pódio vitorioso, Miguel Oliveira dispunha a chance de encerrar o ano com chave de ouro. O feito inolvidável culminou-se na última etapa do mundial de Moto GP, em novembro. O Autódromo Internacional do Algarve, em Portimão, foi palco de um momento histórico. O piloto português arrancou a todo o gás e conquistou a segunda vitória da temporada. Em 2021, o desportista voltou a escrever o seu nome nas páginas douradas do motociclismo. O arranque em Mugello tinha sido notável, o arranque em Montmeló fenomenal: o Falcão aventurou-se, voou para a liderança, fez novamente uma prova sem erros e venceu o Grande Prémio na Catalunha. Aos dois conquistados, juntou-se o terceiro prêmio no MotoGP, em junho de 2021. 2021 tornou-se uma página inteira escrita de sucesso, num livro magistral banhado de glória. Num futuro incerto, a certeza é só uma: Miguel Oliveira continuará a orgulhar uma nação e a levar o seu nome pelos quatro cantos do mundo. Artigo escrito por: Sara Arnaud

  • Treinadores portugueses à conquista do mundo

    Há um português a treinar em cada canto do mundo. Os técnicos lusos já plantaram o seu nome no solo da Europa, África, América do Sul e Ásia. Nas terras profícuas dos quatro continentes, regam-se boas táticas, crescem resultados eficientes e colhem-se os frutos sumarentos de conquistas, com sabor a Portugal. Não é só de Mourinho que se escreve a história lusitana. Os nossos treinadores ganham cada vez mais destaque no panorama mundial de futebol. Nove, o célebre número de Ligas dos Campeões que os técnicos portugueses amealharam no estrangeiro desde 2004. Este ano não se deixou ficar atrás. Por entre campeonatos nacionais a internacionais, os “misters” lusos comovem nações inteiras e fazem dos profissionais portugueses a chave de ouro para atingir o sucesso. Abel Ferreira, o mestre da Libertadores Do outro lado do Atlântico, Abel Ferreira galgou a proeza de Jorge Jesus. Ao encargo do clube de São Paulo, Palmeiras, o técnico português esculpiu um pilar na história do desporto-rei sul-americano ao vencer a Taça Libertadores da América do Sul duas vezes no mesmo ano. Natural de Setúbal, Abel Ferreira terminou a sua carreira de jogador no Sporting devido a uma lesão e iniciou uma nova fase profissional como treinador das camadas mais jovens dos leões. Também deixou a sua marca em clubes como o Braga e na equipa grega, Paok. Em outubro de 2020, começou a treinar o clube brasileiro, Palmeiras. A Taça Libertadores foi disputada num jogo 100% brasileiro, Palmeiras contra Flamengo. Delineado por dedos e cérebro nacional, 2-1 foi o resultado final que destinou o terceiro título consecutivo à equipa de São Paulo. Mas a noite de glória foi de Abel Ferreira que se tornou o primeiro treinador nascido fora da América do Sul a “meter no bolso”, duas vezes seguidas, a maior competição de futebol sul-americano. Leonardo Jardim: um marco eterno na Arábia Saudita Em novembro, Leonardo Jardim conquistou o último canto do globo. Nascido na Venezuela, o treinador de 47 anos aterrou no continente asiático em substituição de José Morais. Depois da presença em equipas como Camacha, Desportivo de Chaves, Beira-Mar, Braga, Olympiacos, Sporting e Mónaco, Jardim pregou as cores portuguesas no Al-Hilal da Arábia Saudita. Passados 12 jogos ao serviço da equipa saudita, o técnico luso ainda não provou o sabor da derrota. Foi ao 23º dia que a Liga dos Campeões Asiática viu o estádio pintar-se de azul e branco. Num frente a frente caseiro, entre os sul-coreanos do Pohang Steelers e os sauditas do Al-Hilal, o clube treinado por Jardim saiu vitorioso num combate que terminou com 2-0, sendo a quarta conquista para o clube. Bastou apenas um ano para Leonardo Jardim, vencer a Liga dos Campeões Asiática e colocar o Al Hilal num pedestal banhado em ouro. Ao tornar-se o primeiro português a vencer um campeonato na Ásia, garantiu mais um “mandato” na liderança portuguesa. Ricardo Formosinho: de Londres, à conquista do Sudão Depois de generosos anos ao lado de José Mourinho no Tottenham e no Manchester United, Ricardo Formosinho tomou a decisão, em agosto de 2020, de restituir-se como treinador principal. Sem certezas do que esperar do futuro e colocando a sua carreira na corda bamba, o treinador acreditou e rumou até ao Sudão numa aventura imprevisível. Em março de 2021, o técnico português, de 64 anos, aterrou em Cartum, capital do país da África Oriental e assumiu o leme do Al-Hilal (Omdurman) SC. O grande clube, com 20 milhões de adeptos, recebeu um novo comando técnico de origem lusa que, em meio ano, conquistou a sua confiança e respeito. Ao alterar práticas fixadas, Ricardo Formosinho carregou o clube ao topo, vencendo o campeonato do Sudão e destruindo o império construído pelo grande rival Al-Merrikh. Agora campeão do Sudão, o Al-Hilal ainda se apurou para a, ainda não realizada, final da Taça. Natural de Setúbal, Ricardo Formosinho carimbou o caminho glorioso do clube sudanês à fase de grupos da Champions africana. Assim, o técnico, de 64 anos, entrou na constelação portuguesa que brilha além-fronteiras. Renato Paiva, o pioneiro da glória do Independiente del Valle Natural de Castelo branco, Renato Paiva iniciou o seu percurso como técnico nas categorias sub17 e sub19, na qual foi vice-campeão, do Benfica e seguindo para o Benfica B. Na época 2018/19, o treinador, de 51 anos, liderou, de forma temporária, a equipa principal. Para a temporada de 2021, reservava-se uma estrada de sucesso e vista triunfante, só não era a portuguesa. Renato Paiva adquiriu o seu primeiro sabor de internacional ao ser contratado como o novo treinador do Independiente del Valle, do Equador. Fruto de muita disciplina e trabalho árduo, o Independiente del Valle elevou-se no panorama de futebol e, pela primeira vez na história do clube, sagrou-se campeão equatoriano. Renato Paiva conduziu uma equipa inteira, rematou as táticas e marcou o golo da vitória. O treinador "Made in Benfica" fez o que ainda ninguém tinha ousado fazer e conquistou um título histórico para o Independiente del Valle. Pedro Martins, um novo “special one” De jogador a treinador dos grandes, Pedro Martins amealha uma carreira inigualável de triunfos. Depois de abandonar o relvado, o técnico estreou-se como adjunto no Vitória de Setúbal, passando pelo Porto e Belenenses. No entanto, foi ao comando do União de Lamas que experienciou verdadeiramente o que era ser treinador. Depois veio um currículo vasto de outras experiências, como no Lusitânia de Lourosa, no SP Espinho, no Marítimo e no Rio Ave. A maio de 2018, Pedro Martins trespassa as fronteiras de Portugal, encontra na Grécia o ingrediente final para o sucesso e promete guiar o Olympiakos até à escadaria da glória. 2021 foi um ano memorável para o clube. A comando do técnico luso, pela segunda vez consecutiva, o Olympiacos sagrou-se campeão grego pela 46.ª vez. Pedro Martins não conhece a derrota e torna-se o treinador português no estrangeiro com mais vitórias em 2021. O Bicampeão e atual líder do campeonato grego, soma um total de 43 vitórias, mais seis do que Abel (37) e mais 14 do que Mourinho (29). Artigo escrito por: Sara Arnaud

  • Afonso Reis Cabral: “Acho que a literatura é isso: é a descoberta, é alargar a vida”

    Um dos maiores escritores portugueses da atualidade: é assim que podemos caracterizar Afonso Reis Cabral. À conversa com o jornal Invicto, o romancista faz uma viagem pela sua jornada pessoal e profissional, percorrendo os momentos mais marcantes dos seus 31 anos. Filho dos anos 90, autodenomina-se escritor desde tenra idade. Com 9 anos, já escrevia “má poesia”, mascarada em desgostos inexistentes, pertencentes a um alter-ego que habitava numa pasta do computador. Ganhou mais terreno no mundo literário após receber o Prémio LeYa , em 2014, com o seu primeiro romance, "O Meu Irmão". Anos mais tarde, partiu para a descoberta de um mundo muito diferente do círculo que conhece, acabando por publicar "Pão de Açúcar", um romance baseado no caso Gisberta, que lhe valeu o prémio José Saramago em 2019. Afirma que apesar de pouca ligação com a invicta, a "pulsão literária da cidade” fez com que ambas as obras tivessem como plano de fundo as ruas antiquadas do Porto. Mais recentemente lançou a obra "Leva-me Contigo", que documenta a viagem que fez sozinho e apenas com os próprios pés, percorrendo os mais de 700 km da Estrada Nacional 2. Para breve, está marcada outra viagem, mas esta será para reciclar a aclamada epopeia portuguesa, criando um novo manuscrito que seja uma “janela para a atualidade”. Atualmente, podemos afirmar que é na pausa do café que tem tempo para ser editor, a profissão que acreditava que lhe daria estabilidade. Contudo, sempre teve uma ilusão satisfatória de que o nome Afonso Reis Cabral não estivesse sempre na contra capa. Jornal Invicto - Nasceu em Lisboa, mas foi na cidade do Porto onde cresceu. Quais são as principais memórias que guarda da sua infância e adolescência na Invicta? Afonso Reis Cabral - É um bocado difícil responder a isso, porque eu cresci no Porto e até aos 18 anos era a minha vida, portanto, não são poucas memórias nesse sentido. A experiência que eu tenho do Porto até é um bocado curiosa, porque só a partir do 10º ano é que estudei numa zona mais central. Eu estudava no colégio Cedros na Arrábida, e durante boa parte da minha infância, exceto aos fins de semana, era mais ou menos a vida de Arrábida e Montes dos Burgos, que é a zona onde os meus pais vivem. Ao mesmo tempo, eu nunca fiz muito a vida de sair à noite e tudo mais, nessas idades. Portanto, há uma determinada vida no Porto que eu tenho pena de não ter tido nessa altura, que me ficou, de certa maneira, vedada. Depois, na [Escola Básica e Secundária] Rodrigues de Freitas, numa zona mais central, foi uma experiência extraordinária, porque é um grande estabelecimento de ensino. Do ponto de vista literário, fiz o lançamento do meu primeiro livro, o “Condensação”, com uma pequena editora do Porto, chamada Corpos Editora. "No entanto, é curioso que nos meus dois livros, mais ou menos por coincidência, são passados no Porto e, de certa maneira, há uma pulsão muito literária na cidade e nos ambientes que eu descrevo, que são ambientes que me interessam, como ambientes de exclusão, de pobreza e dificuldade, que fui beber muito ao Porto, de facto" Eu não sinto que tenha uma ligação muito grande à cidade. Aquela parte da vida em que se começa a conquistar as coisas foi em Lisboa, não é? Conquistar a vida, trabalhar, arrendar casa. Portanto, esse conhecimento e essa relação com a cidade eu tenho-a muito mais com Lisboa. No entanto, é curioso que nos meus dois livros, mais ou menos por coincidência, são passados no Porto e, de certa maneira, há uma pulsão muito literária na cidade e nos ambientes que eu descrevo, que são ambientes que me interessam, como ambientes de exclusão, de pobreza e dificuldade, que fui beber muito ao Porto, de facto. J.I. - Nessa altura, quando era uma criança, já escrevia e para si a poesia era “quase um teatro”. Porque é que tinha essa relação com a poesia, sendo tão novo? ARC - Eu acho que estas coisas, muitas vezes, acontecem mais ou menos por acaso. Eu considero que tenho uma predisposição natural para escrever, o que eu posso talvez apelidar de vocação, enfim, para não chamar outras coisas, porque ninguém é bom advogado em causa própria, não é? Ao mesmo tempo deu-se o caso de, tendo essa predisposição natural, haver em casa livros e os meus pais serem grandes leitores. Portanto, isso deu o ambiente ideal para que começando a escrever não houvesse entraves e muito pelo contrário, houvesse apoio e incentivo. Eu escrevia prosa, contos e coisas assim, embora mais poesia. A poesia, de certa maneira, é uma resposta natural ou mais instintiva a querer escrever. Para a prosa é preciso enredo, é preciso ideias de história, uma voz e uma concessão das coisas. A poesia, como eu a fazia, que era má poesia, é escrever uns versos, dizer umas coisas. Eu tinha 9, 10, 11 anos e estava a falar das saudades da infância ou de angústias existenciais que eu não tinha, ou seja, aquilo era um teatro. Eu tinha uma pasta no computador chamada de “alter-ego”, onde eu guardava a poesia. Portanto, eu assumia que era o meu alter-ego, não era nada confessional, no sentido de estar a falar sobre as minhas amarguras. J.I. - Tal como no conselho que deu no evento do centenário de José Saramago na livraria Lello, os seus pais também lhe incutiram hábitos de leitura, ao ler para si? ARC - Sim, claro. Particularmente a minha mãe, embora o meu pai também. Em idades muito importantes para estruturar o gosto pela leitura, com um ano, dois, três, por aí, lia-me todas as noites um conto das “365 histórias de encantar” ou as histórias do bosque e isso é essencial para se formar leitores. Se de facto os pais se queixam, pelo menos aqueles que têm a mínima consciência que a leitura é uma coisa muito importante para as pessoas, que os filhos não leem, mas ao mesmo tempo não dão o exemplo aos filhos, depois é muito difícil as crianças irem buscar esse gosto. Claro que acontece e é muito mais excecional do que no meu caso, por exemplo, em que foi perfeitamente natural ter muitos livros em casa e ler, tendo esse gosto. "De facto, era romancista e não propriamente poeta" J.I. - Publicou o seu primeiro livro aos 15 anos, o “Condensação”, foi a partir daí que passou a assumir-se escritor? ARC - Na verdade, não. Eu achava que era escritor desde os 9. Achava. Era uma ilusão e acho que essa ilusão funcionou bem, porque ninguém me desiludiu e ninguém me contrariou e continuei com essa ficha posta, digamos, até hoje. Portanto, aos 15 anos foi uma certa viragem. Eu escrevia prosa, mas mais poesia e percebi, quando publiquei o “Condensação”, que não era esse o caminho, não era a minha vocação. De facto, era romancista e não propriamente poeta. J.I. - Aos 9 anos já dizia que queria ser escritor e aos 15 publicou o seu primeiro livro. O jovem Afonso de 18 anos quando foi para Lisboa estudar Literatura também já tinha os planos bem definidos? ARC - Eu acho que sim. No entanto, do ponto de vista de vocação, de sentido de realização de vida através da escrita, nunca tive de escolher nada. Quando fui para a Rodrigues de Freitas fui porque queria estudar Línguas e Literaturas, quando vim para Lisboa foi para estudar Literatura e estar num curso superior que pudesse dar alguma saída profissional, embora muito pouca, porque em Letras é assim, não é? Mas que pudesse dar alguma saída profissional na área da edição. Hoje em dia também sou editor, embora não seja o meu trabalho principal. Não havia escolhas, era o que eu gostava, o que eu queria. O plano era escrever um romance, tirar o curso e trabalhar numa editora para o lado prático da vida estar assegurado e ter algum dinheiro ao fim do mês. "Apesar de caminhar sozinho tinha sempre alguém que me oferecia ajuda, estadia, uma palavra amiga. Portanto, na verdade, foi uma solidão acompanhada" J.I. - Falando um pouco das viagens que fez, entre abril e maio de 2019, percorreu a pé os mais de 700 km da Estrada Nacional 2, sendo que essa experiência deu origem ao livro “Leva-me Contigo”. Porque é que decidiu fazer esta viagem sozinho? ARC - A melhor resposta é não sei (risos). Eu tinha algum tempo disponível, tinha lançado o “Pão de Açúcar” há dois ou três meses, já tinha passado a fase promocional do livro e achava que estava a precisar de uma espécie de retiro, ou seja, de um exame de consciência, fazer um balanço do positivo e do negativo, do que poderia vir a fazer melhor, e isto não digo só do ponto de vista literário, mas sim como pessoa. Para isso, faz-se sozinho e sem carro de apoio. Embora, depois, através das redes sociais e dos textos que ia escrevendo todos os dias, aquilo explodiu e apesar de caminhar sozinho tinha sempre alguém que me oferecia ajuda, estadia, uma palavra amiga. Portanto, na verdade, foi uma solidão acompanhada. J.I. - Qual foi a melhor ou principal lição que reteve desta viagem? ARC - Não sei bem. Quer dizer, a principal lição foi perceber plenamente que de facto o ser humano pode ser uma maravilha. Acho que nós temos muita tendência de nos menosprezar, vermo-nos como uma espécie de mal na terra, que polui e que estraga, mas a verdade é que o ser humano é muito mais do que isso. Nós somos a criação perfeita. Ver o ser humano a ser absolutamente solidário, absolutamente entregue ao próximo e esse próximo por acaso ser eu durante essas 3 semanas foi incrível. J.I. - O seu gosto pelas viagens vem de há muitos anos. Também foi duas vezes à Alemanha de camião TIR, a primeira das quais com treze anos. Considera que as viagens são o método predileto para se inspirar para as suas narrativas? ARC - Não, não. Eu, aliás, não me considero propriamente viajante. Por exemplo, o José Luís Peixoto, viaja imenso e é um escritor-viajante; o Gonçalo Cadilhe não é só escritor-viajante, como é escritor de viagens e por aí fora. Eu vejo-me simplesmente como um romancista. Aconteceu, aos 13 anos, ir à boleia com um camionista para a Alemanha. Depois, voltei a fazer essa viagem aos 25, para relembrar e estudar esse percurso, para eventualmente escrever um romance, ou um livro ou qualquer coisa à volta disso. Depois a nacional 2 e as viagens típicas que toda a gente faz, mas nos últimos anos tenho viajado mais profissionalmente, para ir a países onde os meus livros são publicados ou a encontros com leitores. J.I. - Qual é que foi a motivação para um pré-adolescente fazer essa viagem? ARC - A resposta é também não sei. Era adolescente, mas era muito puto fisicamente. Não sei bem, acho que foi a ideia de aventura, simplesmente. Nós não conhecíamos o camionista Pedro Ribas, mas sabíamos que era uma boa pessoa e proporcionou-se essa aventura. Eu meti na cabeça que queria ir, convenci os meus pais, particularmente a minha mãe que ficou um bocado aterrorizada e fui (ri). J.I. - O entusiasmo era maior do que o receio ou medo? ARC - Sim, tinha medo também, mas era mais o entusiasmo. Medo ou algum momento mais difícil foi particularmente na primeira noite, em que eu pensei “Em que é que eu me meti? Agora tenho mesmo que ir à Alemanha e voltar com um camionista que não conheço de lado nenhum”(ri). Mas de resto, não houve grande problema. "De certa forma, fazer um novo manuscrito e que esse manuscrito seja uma janela para a atualidade" J.I. - Para o ano tem mais uma preparada, a Rota de Camões. Porque é que decidiu planear esta viagem? ARC - São várias viagens na verdade e, se tudo correr bem, é um ano a viajar entre Portugal e os vários locais onde Camões viveu. A ideia não foi minha, é uma iniciativa da Livraria Lello, que me convidou. No fundo, para além de fazer todo o percurso de Camões, eu vou pedir às pessoas para num livro em branco transcreverem à mão Os Lusíadas. Cada pessoa, uma estrofe. No fim, o objetivo é termos um novo manuscrito d’ Os Lusíadas das pessoas com quem eu me vá encontrando. Desde escritores prémios Nobel, eventualmente, cientistas, mas também as pessoas que encontro na rua, como pescadores. Imagino, por exemplo, que hoje em dia haja um guarda na gruta onde Camões esteve a certa altura em Macau, gostava que ele transcrevesse também uma estrofe. De certa forma, fazer um novo manuscrito e que esse manuscrito seja uma janela para a atualidade. J.I. - O “Pão de Açúcar” é o seu único livro que não parte de uma experiência sua. Como é que foi imergir num tema tão distante da sua vivência pessoal? ARC - É um bocado complicado à partida. Tive de investigar o caso Gisberta, não só o caso em si, mas também os ambientes do Porto em 2006: a problemática transexual do caso da Gisberta e os centros de acolhimento por causa dos rapazes. De facto tudo, quer pela vida da Gisberta quer pelos rapazes, era muito distante da minha experiência e isso, à partida, amedronta-me um bocado, porque é pegar em temas delicados e, depois, como é que isto resulta? Ao mesmo tempo, eu penso que a literatura é a descoberta de novos mundos, dizendo de uma maneira assim um bocado publicitária. Não só descoberta, mas como a feitura disso mesmo. Eu quando estou a escrever, estou a escrever pequenos mundos. No caso do Pão de Açúcar é a partir de uma história real, mas é ficção total. "Acho que a literatura é isso: é a descoberta, é alargar a vida" Eu tomei todas as liberdades ficcionais que quis. Agora tinha que haver verossimilhança, tinha que haver um certo compromisso com algumas âncoras reais. Isso implicou estudar, trabalhar, pesquisar, mas também foi o que me atraiu muito. Acho que a literatura é isso: é a descoberta, é alargar a vida, porque caso eu tivesse seguido certas expressões em relação ao lugar de fala, eu só escrevia sobre o meu lugar de fala que é bastante desinteressante e não tem de facto material para um romance. Isso é que interessa: haver literatura em estado bruto. É isso que eu tento encontrar. J.I. - Numa entrevista ao podcast “A beleza das pequenas coisas” do jornal Expresso, referiu que “a boa literatura usa sobretudo a quebra, a falha e o conflito. E esse conflito é da natureza humana”. Porque é que estes são os melhores temas para escrever as suas narrativas? ARC - Talvez porque sejam os temas que definem o ser humano. Que perante uma crise, perante um confronto (a tal quebra, falha) o ser humano define-se e mostra o seu pior e o seu melhor também. Esse mostrar é muito literário. Eu acho que é perfeitamente possível fazer um romance ou uma novela a partir de um tema muito corriqueiro e transformá-lo em algo extraordinário, mas para mim é mais atrativo o ponto de partida da falha, e o ponto de partida da crise. N’ “O Meu Irmão” foi assim e no “Pão de Açúcar” também, o próximo também acho que vai ser assim. Interpreto, mais ou menos, como uma trilogia da falha. Depois, ao mesmo tempo, interessa-me personagens fortes, personagens que estejam marcadas por uma condição (o caso Gisberta o facto de ser transexual; e o caso do meu irmão Miguel ter síndrome de down). Isto são marcas muito claras e tudo se define a partir daí. Isto atrai-me, acho que literariamente resulta. J.I. - Qual é a sua intenção ao abordá-los? ARC - Não é intenção, na verdade. Eu acho que numa escrita não há intenção, ou seja, não há uma mensagem. Eu não quero mostrar-te a ti nada em particular, quero mostrar-me a mim que escrevo. Não há nenhum objetivo didático ou pedagógico ou de ativismo. A intenção é escrever um bom livro e se esse livro depois mostra realidades diferentes ou mostra zonas dúbias da natureza humana fico contente com isso. Até porque os meus dois narradores (“O Meu Irmão” e “Pão de Açúcar”) estão nessa zona dúbia da natureza humana, acho eu, entre o bom e o mau, mas o objetivo não é doutrinar nem ensinar. "O romance é uma outra coisa, é um outro jogo, é um outro âmbito" J.I. - A abordagem destas questões não parte de uma certa responsabilidade enquanto escritor? ARC - Não, eu não sinto essa responsabilidade. Ou seja, acho que a responsabilidade é escrever literatura. E a literatura por sua vez chega às pessoas dessa maneira, mas eu não tenho qualquer pretensão de mudar a sociedade. Parece-me também, para já, pôr um peso grande demais nos ombros de quem escreve, e por outro lado também me parece absolutamente disparatado. No “Pão De Açúcar”, o caso real fala por si e as pessoas definem-se perante o mesmo, com base no conhecimento que têm. Não é preciso um romance para ensinar às pessoas que algo como o caso Gisberta é intrinsecamente mau e que não se deve tratar ninguém daquela maneira. A função de ensinar, a realidade já a deu, porque qualquer pessoa consegue perceber isso perante o caso real. O romance é uma outra coisa, é um outro jogo, é um outro âmbito. "O que me compromete é o livro em si e o que eu escrevi, não o que outras pessoas acham em relação ao meu livro" J.I. - Afirmou-se muito cedo no panorama literário português, algo que geralmente ocorre quando o escritor é um pouco mais velho. Recebeu o seu primeiro grande prémio literário com 24 anos. Isso acabou por ser uma motivação ou uma pressão na sua carreira? ARC - Foi uma pressão e uma motivação ao mesmo tempo. O prémio LeYa é o prémio que mais ajuda a lançar com projeção novos autores. É evidente que não são necessariamente primeiras obras, uma pessoa com 90 anos e 30 livros publicados pode mandar um original, mas há uma certa tradição de ser as primeiras obras e de facto ajuda a enquadrar o livro, a lançar o livro e a mostrar. Ao mesmo tempo, também há uma certa pressão. Eu achava que a minha idade na altura não seria assim muito determinante para isso, porque achava-me mais ou menos alheio a essa pressão, mas uns meses depois comecei a senti-la, não em relação ao prémio em si, que acho que na verdade não me “compromete” nada. O que me compromete é o livro em si e o que eu escrevi, não o que outras pessoas acham em relação ao meu livro. No fundo, um prémio é isso: a opinião favorável de alguns leitores em relação a um livro. Foi mais propriamente a descoberta do leitor, isto é, cada cabeça sua sentença, e na literatura ainda mais em particular. Portanto, era como se de súbito o meu livro, que pouco mais tinha sido lido por mim e meia dúzia de amigos e família, agora tivesse muitos leitores e nesses leitores cada um faz o seu livro. Descobrir isto e lidar com isto foi complexo durante uns meses. Enfim, depois tudo cai numa certa normalidade também. J.I. - Enquanto escritor, considera-se uma exceção na sua geração? ARC - Não vou responder, porque pode ser um bocadinho presunçoso da minha parte ou acho que não sou eu que devo dar-me como exceção, não me cabe a mim responder. J.I. - Porque é que não há mais escritores com um percurso semelhante ao seu? ARC - Vamos lá ver uma coisa, estatisticamente, tentando responder de maneira mais analítica (ri), ser escritor não é a norma, tal como ser pintor ou muitas outras coisas dentro desse âmbito, também não o são. O que quer dizer que num país com 10 milhões de habitantes, há sempre pouca gente a escrever e dentro dessa pouca gente não há um percurso certo. Ou seja, o certo não é começar aos 9 anos e publicar aos 15 um primeiro livro e um primeiro romance aos 24. Não há caminho, na verdade. O Saramago publicou o primeiro romance aos 25, mas depois só recomeçou a escrever e a ser “Saramago” a partir dos 60. Ao mesmo tempo, de facto, é difícil num país com pouca massa crítica (poucos leitores, poucos escritores), que isso aconteça. É difícil começar a publicar cedo. Muitas vezes pode nem ser aconselhado, ou porque um um livro pode ser só um teste, um ensaio geral, há vários fatores. Uma primeira dificuldade passa logo por tentar chegar às editoras. Portanto, é uma resposta talvez um bocado complexa e que é quase uma tese de mestrado do que uma resposta a uma conversa. J.I. - Podemos dizer em sentido figurado que a escrita corre-lhe nas veias. No entanto, desde o início que se quis distanciar do seu grau de parentesco com Eça de Queirós. Porque é que sentiu essa necessidade? ARC - Eu gosto de falar das coisas em relação às quais tenho responsabilidade, que são minha culpa digamos. Essa, se calhar, é uma curiosidade genética. Penso que as pessoas acham, eventualmente, piada ou têm em consideração, numa análise que fazem de uma pessoa, mas que, na verdade, eu tenho tanta responsabilidade como os meus pais, avós, bisavós, por aí fora. E para além demais, no início (hoje em dia isso não me preocupa), quando saiu “O Meu Irmão” com o prémio LeYa, as coisas que falavam eram coisas que de facto eu não tinha responsabilidade, uma era eu ter 24 anos, outra era ser trineto do Eça de Queirós. Isso chateava-me um bocado, até porque quando se começa há necessidade de afirmação, de se mostrar trabalho com valor independente de qualquer coisa e eu achava que, nalguns momentos, era quase como uma etiqueta e eu não a merecia. Hoje em dia, enfim, já saiu “O Meu Irmão”, “Pão De Açúcar”, outros livros, crónicas e acho que é só uma curiosidade e que as pessoas interpretam como tal e espero que não influencie a maneira como escrevo. J.I. - Qual é o livro que até hoje teve maior impacto na maneira como olha para a vida? ARC - É uma resposta muito difícil, porque não há um livro só, mas eu posso dizer que o livro que, se calhar, mais me marcou em fases muito importantes na formação como pessoa e como escritor foi “A Leste do Paraíso”, do Steinbeck. Acho que o li aos 11, 12 ou 13, no máximo. É uma obra extraordinária e marcou-me muito. Não sei se tanto como a pergunta pede, mas um bocado. J.I. - E há algumas principais referências na literatura estrangeira e/ou nacional que queira referir? ARC - É difícil, é muito difícil. Pode ser desde uma coisa muito pequena, de uma passagem de um livro, até ao Philip Rotell, ao Fernando Pessoa, ao John Steinbeck, ao Shakespeare ou ao Proust. São coisas tão dissonantes e tão díspares. Até uma escritora completamente desconhecida que é Helen Grace Carlisle, que escreveu um romance ótimo nos anos 20. Tudo isso marca de alguma maneira, mas, ao mesmo tempo, eu não tenho autoridade para dizer o que é que me marcou ou não, porque o que interessa é o que está escrito, e o que eu escrevo pode não ter nada a ver com isso. Entrevista por: João Múrias e Mafalda Barbosa

  • Filmes mais desapontantes de 2021

    Há sempre vários filmes que, apesar de não se tratarem necessariamente de cinema de má qualidade, não acabam por corresponder às expectativas criadas até ao seu lançamento. 2021 foi um ano de grandes expectativas no que toca aos seus filmes. A pandemia causou um atraso descomunal em dezenas de estreias e, por isso, 2021 trouxe consigo uma enchente de blockbusters populares. Fazer uma lista dos piores filmes de um ano é sempre complicado porque pouca gente conhece de facto os piores dos piores. Mas, há sempre vários filmes que, apesar de não se tratarem necessariamente de cinema de má qualidade, não acabam por corresponder às expectativas criadas até ao seu lançamento. De todos, estes são os cinco filmes deste ano que mais desapontaram. 5. The Matrix Resurrections 18 anos depois de se ter completado a trilogia original do franchise, o retorno de Keanu Reeves, Carrie-Anne Moss e, sobretudo, de Lana Wachowski a uma nova sequela de Matrix despertou a curiosidade de qualquer fã de um dos filmes mais revolucionários do cinema moderno. Apesar de uma premissa original para o retorno do protagonista e da introdução de vários conceitos interessantes que ficaram por explorar, Resurrections aposta mais em meta-referências e recriar cenas nostálgicas do primeiro filme do que em desenvolver um novo enredo que dê progressão relevante à história da trilogia. O quarto Matrix estagna-se, assim, na sua mediocridade de filme de Hollywood e deixa-nos sem uma razão aparente para o seu surgimento. 4. House Of Gucci House Of Gucci está longe de ser um dos piores filmes de Ridley Scott. É uma adaptação de uma história cativante que conta com algumas performances fenomenais por parte da maioria do seu elenco, particularmente Lady Gaga e Adam Driver. Contudo, dada as elevadas expectativas para um projeto com tanto prestígio, o filme acaba por parecer uma oportunidade perdida. House Of Gucci sofre de um ritmo inconsistente e de um grande problema de tonalidade que cria uma divisão demasiado drástica entre uma primeira metade satírica e uma segunda parte intensamente trágica. 3. Zack Snyder’s Justice League Indubitavelmente um dos filmes mais aguardados destes últimos anos, Zack Snyder’s Justice League é um caso excecional no mundo do cinema. Para aqueles que não estão a par, durante a pós-produção de Justice League, o filme de 2017, Joss Whedon veio substituir o até então realizador do filme, Zack Snyder. Esta mudança levou a uma edição desprezada por fãs e críticos e encarada como um dos piores filmes do DCEU. Depois de um movimento muito intenso e prolongado por parte dos fãs, este ano foi lançada a versão “original”, de acordo com a visão de Snyder. Embora esta versão seja radicalmente diferente e um claro salto em qualidade, continuou, na mesma, a não ultrapassar a linha do medíocre, com os seus piores momentos a contrabalançar os melhores. A ambição de incluir inúmeros fios narrativos diferentes e investir em arcos complexos para tantas personagens acabou por colapsar numa tentativa exagerada de 4 horas. Isto associado a um guião fraco com comédia forçada torna este filme num desperdício de potencial. 2. Don’t Look Up Don’t Look Up tinha tudo para dar certo: um elenco com alguns dos melhores atores do momento, um realizador de renome e uma premissa interessante com muito pano para mangas. Para desgosto de muitos, após a sua estreia, o filme desceu rapidamente do patamar de potencial favorito aos Óscares para uma completa desilusão entre críticos. A sátira política decidiu arriscar no cúmulo do ridículo, ultrapassando a linha da paródia para o disparate. Adam McKay, que ainda há pouco tempo escreveu e realizou o brilhante filme Vice (2018), perde aqui toda a nuance e inteligência nos seus diálogos, optando por piadas diretas e ilógicas. A adição de várias personagens insignificantes tiram também bastante tempo de antena aos arcos subdesenvolvidos dos protagonistas. Em conjunto com uma mensagem muito pouco consciente de si própria, Don’t Look Up merece o seu lugar nesta lista. 1. Black Widow Black Widow foi seguramente um dos filmes mais esperados do ano. Estamos a falar do primeiro filme da nova fase da Marvel Studios e de uma das únicas personagens favoritas dos fãs que ainda não tinha recebido o devido protagonismo, apesar de já pertencer a este universo cinematográfico desde 2010. Juntando à festa o facto de o filme ter sido adiado 3 vezes desde o seu lançamento previsto em maio de 2020, é fácil de perceber que o entusiasmo desceu a pique quando nos deparamos com este fracasso. Black Widow relembra-nos incessantemente das suas falhas ao estar repleto de flashbacks a um passado muito mais interessante do que a sua própria narrativa. É um filme de ação em que todas as cenas de ação estão mal aproveitadas e sem qualquer sensação de risco. Além disso, trata-se de um enredo cheio de buracos com vilões tão descartáveis, que nem a ótima dinâmica de família criada pelas personagens principais consegue salvar este filme. Artigo escrito por: Nuno Dias

  • Volt Portugal: a estreia do partido na corrida ao parlamento

    Pela primeira vez na corrida às eleições legislativas de 2022, o Volt Portugal, que nasceu na Europa em reação ao Brexit, estabeleceu como meta a eleição de dois deputados no Parlamento. Mantém em cima da mesa a probabilidade de diálogo com os partidos de centro, PS e PSD, mas traça uma linha vermelha nas possíveis negociações com o Chega. Encabeçado por Tiago Matos Gomes, o Volt Portugal traçou como principal objetivo eleger dois deputados nas próximas eleições legislativas a realizar no dia 30 de janeiro. Não obstante, o presidente do partido, em declarações à Lusa, admite que alcançar uma entrada na Assembleia da República "já seria bom". Trata-se da 25ª força política a erguer-se no país, não se insere na "dicotomia esquerda/direita" e tem em vista arrecadar votos dos eleitores de centro e dos insatisfeitos. Assim, o Volt pretende "dar uma nova visão para o país e para a Europa, uma outra alternativa, moderada, fora dos partidos tradicionais do centro que são o PS e o PSD". "Acho que as pessoas estão desiludidas com boa parte dos partidos políticos e com os partidos clássicos e é altura de pensar mais nas pessoas e menos na tática política, como é costume. Isto sem ser populista, ou seja, que este descontentamento que existe, que está latente por um lado, está visível por outro, seja dirigido para partidos como o Volt que é um partido moderado, do centro, e não para os extremos, nomeadamente para a extrema-direita como tem acontecido por toda a Europa e em Portugal também, pelo menos desde 2019", justifica Tiago Matos Gomes. Conseguindo ser representado no Parlamento e não havendo maioria absoluta, o líder do Volt afirma que o partido não descartará a possibilidade de negociar com a força política que tenha melhores requisitos para criar Governo, "seja PS, seja PSD". No entanto, rejeita integrar “a solução governativa que inclua, por exemplo, o Chega". Sem "amarras ideológicas", Tiago Matos Gomes salienta que as políticas do partido se baseiam "em boas práticas e evidência científica, procurando envolver os cidadãos nas tomadas de decisão". O Volt assume-se como um movimento internacional progressista e pragmático, defendendo o federalismo europeu e o pan-europeísmo. O líder do movimento português explica que o objetivo do partido é formar “um Parlamento Europeu com iniciativa legislativa, um Senado representado de forma igual e ter um Governo e Presidente eleitos pelos europeus”. Defendendo a mudança da idade do voto para 16 anos, a força política assume-se como "o partido das novas gerações" e pretende realizar uma reforma pedagógica para que os jovens terminem os estudos e estejam capacitados "para enfrentar os desafios depois na idade adulta". Outra prioridade do Volt passa pela aposta nas energias renováveis. Também apontam para o “renascimento económico”: “acreditamos que os portugueses devem ter melhores salários, igualdade de oportunidades e que o combate à corrupção deverá ser feito através de tribunais especializados”, lê-se no site oficial do partido. O Volt Europa nasceu em março de 2017, em resposta ao Brexit e principiado por um grupo de estudantes nos EUA. Fundado por Andrea Venzon, o movimento internacional, já se hospeda em vários cantos da Europa, como Portugal, Alemanha, Bulgária, Bélgica, Espanha, Holanda, Itália, Áustria, Luxemburgo, Dinamarca, França, Reino Unido ou Suécia. Em maio de 2019, Damian Boeselager foi o primeiro eurodeputado no Parlamento Europeu eleito pelo Volt Alemanha. O partido europeísta chegou a Portugal a 28 de dezembro de 2017 e foi legalizado a junho de 2020 pelo Tribunal Constitucional. O Volt Portugal anuncia candidatos em 19 dos 22 círculos eleitorais. Artigo escrito por: Sara Arnaud

bottom of page