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  • Foto do escritorSara Arnaud

2021: O triunfo dos portugueses

Atualizado: 19 de jan. de 2022

De 2021 recordaremos sempre a linha tênue que separa um dilúvio de adeptos em festejos, numa noite de maio, e um estádio vazio, lá no outro canto do globo, em Tóquio. É certo que, os atletas da pequena nação lusa, transformaram o vírus numa oportunidade, soltaram um grito possante e conquistaram, com brio, as terras impetuosas do desporto mundial. Afinal somos gigantes!

Imagem: Sara Arnaud

No ano 2021, a covid-19 voltou a atacar o desporto mundial. Contudo, para Portugal, o prelúdio foi banhado de proezas heroicas. As infindas vitórias impeliram aos lusitanos unificar o seu apoio a espaços como o atletismo, passando no campo de basquetebol e sobrevoando a pista dos desportos motorizados.


Do outro lado do oceano, chovem estrelas portuguesas carregadas de sucessos e êxitos. A "Portuguesa" ecoa nos quatro cantos de um mundo que já se faz pintar de cores lusas. Os Jogos Olímpicos da pandemia foram também os melhores de sempre para Portugal. Pela 1.ª vez na história o país amealhou 4 medalhas olímpicas.


2021 foi mais uma página banhada em ouro do extenso livro de conquistas portuguesas. O povo luso certamente irá continuar a vibrar com os feitos épicos em desportos que cada vez mais granjeiam expressão popular. Recordes por bater, classificações por melhorar: é altura de (continuar) a fazer o que ainda não foi feito.


Jorge Fonseca, o "king" do judo

Fotografia: AFP

Jorge Fonseca derrotou a pobreza, "fintou" o cancro, teve um filho, levou duas vezes o ouro ao pescoço e empunhou a glória olímpica. Nasceu em São Tomé e Príncipe e com apenas 11 anos aterrou em Portugal. Foi aqui que, o atleta do Sporting Clube de Portugal, descobriu a paixão pelo judo e agigantou o seu potencial.


Até chegar ao estrelato da modalidade, o judoca percorreu um caminho íngreme e rugoso. Passou por uma paternidade precoce (com apenas 17 anos) e esbateu-se num temeroso tumor na perna aos 22 anos, mesmo assim Jorge Fonseca nunca baixou os braços e tornou-se numa inegável prova de superação.


Em 2013, o judoca “subiu ao tatami” para se tornar o primeiro atleta masculino português a alcançar o título de Campeão da Europa no escalão sub-23. No ano de 2020, em Tóquio, dominou a competição continental e trouxe-se, pela primeira vez, o ouro para as terras portuguesas. Este ano voltou a levar a bandeira portuguesa mais longe repetindo o feito. Desta vez em Budapeste, o atleta venceu todos os confortos por ippon e conquistou o desígnio de bicampeão mundial de judo (100kg).



O judoca português encerrou 2021 com a cereja no topo do bolo ao arrecadar a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos (categoria -100kg), apenas a terceira na modalidade. O lutador, dentro e fora do “tatami”, não conhece limites e batalha para ser o melhor de todos os tempos.


Jorge Fonseca tem-se afirmado como um dos nomes mais temidos no universo do Judo. O atleta do SCP emergiu do fundo do oceano, resistiu a fortes tempestades e navega, sempre, rumo à vitória.


Patrícia Mamona, um "salto" para o topo português

Fotografia: EPA

Norteada por José Uva, Patrícia Mamona "voou" em 2021: ao título europeu somou-se uma medalha olímpica, à boleia de um novo recorde nacional. Foi no Cacém, em Sintra, que Patrícia chamou a atenção do treinador de atletismo, José Uva, que logo a imbuiu a praticar o desporto. A partir daí o êxito "saltou" sempre de mãos dadas com a atleta portuguesa e as conquistas no triplo salto foram acontecendo.

Bateu pela primeira o recorde nacional em Helsínquia (2012), quando foi vice-campeã europeia, e pela segunda em Amesterdão (2016), quando venceu o ouro. Já nos Jogos Olímpicos de Verão Rio 2016 terminou a prova em sexto lugar, com a marca de 14,65m (mais uma vez recorde nacional).

O ano de 2021 começou por bater de frente com Patrícia Mamona. Testou positivo à Covid-19 na antecâmara dos Europeus em pista coberta, tornando-se num obstáculo que quase a tirou da competição, nos quais viria ocupar o lugar mais alto do pódio. No europeu “indoor” em Torun, na Polónia, a triplista estabeleceu um novo recorde luso de triplo salto, com o novo máximo de 14,66m, consagrando-se campeã europeia de pista coberta.


Patrícia Mamona no Europeu de Pista Coberta. Fotografia:Reuters/Lukasz Szelag

As gotas de suor em Torun espelharam o esforço e a técnica polida de cinco anos de trabalho, mas o melhor ainda estava por fazer, a 11 000km de distância da capital portuguesa. Patrícia Mamona cumpriu com a forte esperança dos portugueses numa medalha e foi prata no triplo salto, nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020. A atleta fechou 2021 com a chave de ouro, ao bater o recorde nacional, graças a uma marca de 15,01m.

Uma vida inteira dedicada ao atletismo levou-a ao topo da modalidade e afixou-a no pedestal das lendas eternas a que já se habituou. Patrícia Mamona vai escrevendo a sua história através de linhas vitoriosas e repletas de glória. O objetivo é levar o recorde nacional às estrelas.


Fernando Pimenta rema até à eternidade
Fotografia: Getty Images

Fernando Pimenta é o rosto mais conhecido da canoagem portuguesa. Natural de Ponte Lima, Viana do Castelo, traçou um legado astronômico e, ao longo do seu trilho, amealhou mais de 100 medalhas internacionais. Encarou a derrota do Rio2016 e, na felicidade da paternidade, terminou o ano de 2021 com mais uma mão cheia de triunfos.


À medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Londres2012, em dupla com Emanuel Silva, o canoísta adiciona igualmente medalhas numa panóplia de competições mundiais e europeias. Para Fernando Pimenta, o dia 27 de setembro de 2020 ficará gravado na lápide do sucesso, ao conquistar a 100.ª medalha internacional – ouro na Taça do Mundo de velocidade de Szeged, em Hungria.


Depois do feito centenário, o canoísta do Benfica iniciou o ano de 2021 com uma medalha de prata nos Campeonatos da Europa (Poznan), em K1 1000m, e uma medalha de bronze, em K1 5000m. Aproveitando a oportunidade para remar a favor do estatuto de herói nacional, Pimenta apanhou a onda dos Jogos Olímpicos de Tóquio e conquistou o bronze, em K1 1000m.


O ouro já corre no sangue de Fernando Pimenta. Depois do bronze olímpico, o canoísta cumpriu a promessa, de que ia dar tudo no mundial, feita aos portugueses. No reencontro com o húngaro Kopasz, em Copenhaga, Pimenta empunhou a medalha de ouro nos 1000m e sagrou-se campeão do mundo pela segunda vez. Ao ouro, o canoísta juntou uma medalha de prata em K1 5000m.

Num espaço de apenas dois meses e meio, o atleta português registou um trajeto de vitórias brilhante, uma proeza sem par, à altura de predestinados. As possantes pagaiadas de Fernando Pimenta desaguam num contributo infindável para o crescimento da canoagem portuguesa e das restantes modalidades náuticas de Portugal.


Pedro Pichardo, duas asas de puro ouro

Fotografia: Getty Images

Antes do nascer do sol em Portugal, o triplista garantia para as cores lusas, aquelas a que chamou de suas desde 2018, o melhor desempenho de sempre da terra lusitana nos Jogos Olímpicos. Nasceu no país das Caraíbas e, posteriormente, mudou-se para a capital de Cuba, Havana. O filho de Jorge Pichardo, treinador de atletismo, encantou-se desde tenra idade pela arte do triplo salto.


O primeiro choque com a capital cubana deu-se, após a proibição de Jorge Pichardo em treinar o seu filho já de 21 anos. Apesar da conquista de duas medalhas de prata nos Mundiais de Moscovo e Pequim, e ouro nos Jogos Pan-Americanos, no Canadá, não se delongou até surgirem novos conflitos e desentendimentos entre Pichardo e o país da América Central.


2017 foi o ano determinante na carreira de Pichardo. Em abril, abandonou a comitiva cubana, fez de Portugal a sua nova casa e do Benfica a sua morada de treino. No final do ano, principiou o processo para se naturalizar português e saltar com a bandeira lusa ao peito, que se concluiu em 2018.


2021 foi coroado um ano de opulência. Em estreia das cores portuguesas, Pedro Pichardo inicia o Campeonato Europeu de pista coberta com a vitória no triplo salto e o ouro no bolso. Como era de esperar, o triplista foi apontado como favorito ao ouro nas Olimpíadas de Tóquio. Noite cerrada em Portugal, o favoritismo acabaria por se comprovar, trazendo ao país a primeira medalha de ouro nos Jogos Olímpicos desde 2008, e batendo o recorde nacional com a marca 17,98m.

O ouro nas Olimpíadas soube-lhe a pouco, uma vez que o seu pai e treinador tinha posicionado a fasquia na marca histórica dos 18 metros. No entanto, Pedro Pichardo deixou a sua pegada na caixa de areia e agigantou-a, enternecendo o apoio de uma nação que agora carrega ao peito.


Neemias Queta, o primeiro português a pisar a NBA

Fotografia: Instagram Sacramento Kings

Por mares nunca antes navegados, Neemias Queta pisou solo desconhecido ao basquetebol português e conseguiu um feito que nenhum outro atleta conseguira até então. O poste luso foi o primeiro português escolhido no Draft da NBA e tornou-se o primogênito a jogar na maior Liga de basquetebol do mundo. Nascido em Lisboa, foi aos 10 anos que driblou pela primeira vez.

O atleta iniciou a carreira no FC Barreirense, clube da terra onde cresceu, e jogou até à temporada 2016/17. Na temporada 2017/18, vestiu a camisola do SL Benfica e realizou 29 jogos na equipa B e 4 jogos pela equipa principal. Um oceano separava-o do sonho, mas a sorte estava do seu lado. Em agosto de 2018, rumou aos Estados Unidos da América para se juntar à equipa universitária, Utah State. Em 2019, com a seleção nacional, venceu a 2ª Divisão do Europeu de sub-20.

O dia 30 junho de 2021 ficou marcado para a história portuguesa. Neemias Queta foi a 39ª escolha do Draft da NBA e, assim, o primeiro jogador português a atuar na Liga norte-americana de basquetebol. O clube selecionado foi o Sacramento Kings, da Califórnia. Ao escolher o número 88 estampou nas costas as raízes que lhe carregaram até à estrada do sucesso, pois vestia o número 8 no Barreirense. A 14 de agosto, o clube californiano, ganhou o torneio de verão, NBA Summer League.


A espera portuguesa acabou. Foi durante a madrugada do dia 18 de dezembro que o poste luso, de 22 anos, se tornou no primeiro português a entrar oficialmente em campo num jogo da NBA. Frente aos Memphis Grizzlies, Neemias Queta jogou oito minutos e estreou-se com cinco ressaltos ganhos, uma assistência e um desarme de lançamento.

Neemias Queta cumpriu o seu e o sonho de uma nação ao mostrar credenciais inigualáveis para estrear um país na NBA. É certo que escreveu história e carregou o orgulho nacional para o outro lado do oceano.


Miguel Oliveira, um falcão sobre duas rodas

Fotografia: Getty Images

Sem surpresas, Miguel Oliveira voou a todo o gás do seu ninho, Almada, e aterrou em mais uma temporada impetuosa e de consolidação no hall of fame de duas rodas. Nasceu para os triunfos e para brilhar nos holofotes do Moto GP, contornando as curvas e contracurvas do "palco" a que chama de casa. Recebendo aplausos fulgurantes pela terceira vez.


O piloto luso deu os primeiros passos no Mundial de Moto3, no ano de 2011, e arrecadou os primeiros dois pódios. No ano seguinte, deu-se a escalada à categoria intermédia, a Moto2. Em 2017, com a KTM, amealhou o título de vice-campeão. O excecional percurso, alcançado ao respaldo da marca austríaca, conduziu o piloto português para a subida à principal categoria do motociclismo, o MotoGP, em 2019.


2020 foi um ano astronómico para o desportista de Almada. No mês quente, agosto, Miguel Oliveira triunfou no Grande Prémio de Moto GP da Estíria, na Áustria. Depois do seu primeiro pódio vitorioso, Miguel Oliveira dispunha a chance de encerrar o ano com chave de ouro. O feito inolvidável culminou-se na última etapa do mundial de Moto GP, em novembro. O Autódromo Internacional do Algarve, em Portimão, foi palco de um momento histórico. O piloto português arrancou a todo o gás e conquistou a segunda vitória da temporada.


Miguel Oliveira vence Grande Prémio na Catalunha. Fotografia: Getty Images

Em 2021, o desportista voltou a escrever o seu nome nas páginas douradas do motociclismo. O arranque em Mugello tinha sido notável, o arranque em Montmeló fenomenal: o Falcão aventurou-se, voou para a liderança, fez novamente uma prova sem erros e venceu o Grande Prémio na Catalunha. Aos dois conquistados, juntou-se o terceiro prêmio no MotoGP, em junho de 2021.


2021 tornou-se uma página inteira escrita de sucesso, num livro magistral banhado de glória. Num futuro incerto, a certeza é só uma: Miguel Oliveira continuará a orgulhar uma nação e a levar o seu nome pelos quatro cantos do mundo.



Artigo escrito por: Sara Arnaud

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