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  • Saramago recordado como "o grande revolucionário da língua portuguesa”

    A Fundação José Saramago e a Livraria Lello organizaram, no Porto, uma conversa sobre a vida e obra do único Nobel da Literatura português. O evento contou com quatro vencedores do prémio José Saramago: Afonso Reis Cabral, João Tordo, Adriana Lisboa e Andrea Del Fuego. Acompanhados por um copo de vinho do Porto, dezenas de admiradores de Saramago encheram os dois pisos da Livraria Lello, na última sexta-feira à noite, para assistir a uma conversa de escritores sobre o homem e autor que, se fosse vivo, estaria a celebrar agora os seus 99 anos. Numa conversa moderada pelo diretor da Fundação José Saramago, Sérgio Machado Letria, recordou-se o intelectual audaz, irónico, escritor de personagens e formador de leitores, o autor, em suma, que “revolucionou a língua portuguesa”. Numa primeira ronda, os “herdeiros” de Saramago que participaram na sessão – todos vencedores do Prémio Literário que tem o nome do escritor; Gonçalo M. Tavares, outro dos premiados que ia estar presente, teve que cancelar a presença por questões de saúde – foram instados a abordar a relação que têm com o escritor. Afonso Reis Cabral referiu que a sua “experiência enquanto leitor de Saramago é diferente da de alguém que seja um pouco mais velho”. Com 31 anos, o autor de “Pão de Açúcar” já só se recorda de Saramago enquanto prémio Nobel – galardão que o escritor português recebeu em 1998 -, ou seja, já havia uma aura em torno do escritor. O romancista defendeu que “Saramago é um dos últimos grandes intelectuais com peso na sociedade”, sendo esse o primeiro impacto que tem do escritor e, só depois, vem a influência que decorre do facto de ser um leitor assíduo do Nobel português. O jovem escritor, vencedor do Prémio Saramago em 2019, considera que José Saramago é inigualável, uma vez que conseguiu “ter um estilo absolutamente próprio, único, ter uma voz e ao mesmo tempo conseguir contar uma história com personagens profundas, bem construídas e com uma mecânica de ficção extraordinária”. Andrea Del Fuego recorda-se da sensação física de ler pela primeira vez um livro de Saramago. “O Evangelho segundo Jesus Cristo” fê-la “sentir um frio na barriga como se ele [José Saramago] me tivesse levado junto para uma certa audácia”. A escritora brasileira realçou ainda que a ironia de Saramago – uma característica da escrita dele – “é uma ironia pedagógica, porque ela tira as bases da verdade”. Del Fuego, vencedora em 2011 do Prémio José Saramago, assume que uma das grandes lições de Saramago é a defesa da escrita “como um lugar de conhecimento e de intervenção”. Adriana Lisboa tem n’“O Memorial do Convento” o seu livro favorito do escritor – leu-o “quatro ou cinco vezes” – e reconhece que Saramago é uma das presenças mais importantes da sua formação como leitora, pelo "ensinamento" que a literatura dele lhe proporcionou e "pelo compromisso ético absoluto da pessoa que foi e que faz parte das suas narrativas”. Segundo a romancista, poetisa e tradutora, no Brasil, José Saramago é considerado “um autor para intelectuais, culto e de difícil leitura”. João Tordo foi o último vencedor do prémio Saramago a falar no evento – entrou à distância, como as escritoras brasileiras. Ao público, descreveu “O Ano da Morte de Ricardo Reis” como “o grande livro de José Saramago, onde a voz dele está”. João Tordo identifica a voz “do escritor de personagens” como fruto de décadas de trabalho e não de uma mera epifania. Deste modo, segundo João Tordo: “há um antes e um depois de José Saramago. Há quem diga isso do Eça [de Queirós]. Eu acho que ele é um grande escritor, mas não tem aquilo que Saramago tem, não tem uma voz que é incompletamente inconfundível. Nesse sentido, Saramago é o grande revolucionário da língua portuguesa”. João Tordo olha para a figura de Saramago como uma grande inspiração, pois foi a obra do autor que o fez acreditar que ele próprio tinha capacidades para “escrever romances do género”. Além disso, das poucas interações que teve com o escritor e daquilo que conhecia dele, João Tordo considera que Saramago, apesar de ter sido uma pessoa comunicativa e mediática, “era um homem que convivia muito bem com a sua solidão, que é uma coisa que um escritor tem de fazer. O próprio ofício obriga-nos a fazer isso”. Andrea Del Fuego diz-se sentir, em parte, influenciada por José Saramago, nomeadamente devido ao “compromisso ético das narrativas dele com o questionamento do posicionamento do homem no mundo”. Na mesma linha, Afonso Reis Cabral afirma que “em Saramago as duas coisas [arte e ativismo] estão unidas e isso é essencial, ou seja, o compromisso ético e o compromisso artístico”, algo que nem sempre se verifica. Saramago “para entender o mundo” Sérgio Machado Letria, diretor da Fundação José Saramago, aproveitou a conversa para abordar a questão de como dar a conhecer Saramago aos jovens enquanto personalidade e escritor, uma vez que estes não veem ou não se lembram de ver Saramago na comunicação social. O escritor português faleceu em 2010. João Tordo aconselha aos jovens que procurem por entrevistas do escritor na internet, pois “a sua maneira de falar era emocionante, tal como a maneira como escrevia”. Por sua vez, Afonso Reis Cabral acredita que “a figura de Saramago sobrevive sem ele próprio, porque os livros são o que são. A grande aposta é dar a conhecer os livros e depois, como sucedâneo dos livros, o autor”. Associado a esta questão, Reis Cabral ainda refere que é urgente desconstruir os preconceitos em torno do escritor. “Dizer que Saramago não sabia usar a pontuação, é a mesma coisa do que dizer que Picasso não sabia pintar”, alude. Sérgio Machado Letria considera que “só com o contacto e com o acabar desses preconceitos [em relação à escrita de Saramago] é que nós conseguiremos que mais alunos leiam a obra de Saramago”. O responsável pela Fundação criada em nome do escritor crê que a escrita do prémio Nobel é “absolutamente única” e que os textos dele são uma “extraordinária ferramenta para entendermos este mundo e para refletirmos sobre a vida e a sociedade. Se isso acontecer, as pessoas estão mais bem preparadas para se posicionarem e se defenderem perante um mundo que é, cada vez mais, complicado”. Sérgio Machado Letria também assumiu na sessão como uma prioridade a aproximação dos jovens à leitura, num mundo cada vez mais digital. Para isso, disse, é necessário “dessacralizar o livro, acabar com a ideia de que não se pode mexer ou estragar”. O diretor ainda sugere outros contactos com a literatura, como revistas e jornais. “O importante é que se leia”, conclui. Todos os elementos do painel referiram a importância de associar a leitura a momentos de prazer, portanto, para Sérgio Machado Letria dizer que um livro é de leitura obrigatória é, de certa forma, “condenar o livro”. Afonso Reis Cabral, aconselha os pais a lerem livros aos filhos, de modo a criarem neles hábitos de leitura, evitando que eles achem que ler é “uma seca”. Centenário de Saramago As celebrações do centenário de José Saramago iniciaram-se em novembro e prolongam-se até dia 16 de novembro de 2022, dia em que o escritor faria 100 anos. O plano foi elaborado pelo professor Carlos Reis a convite da Fundação José Saramago. Em declarações ao JPN/Jornal Invicto, à margem do evento na Lello, Sérgio Machado Letria garante que o programa é “muito diversificado, com uma grande componente de outras linguagens artísticas em diálogo com a literatura de Saramago”, sendo que as leituras são o “eixo fundamental”. Exemplo disso vão ser as adaptações teatrais de textos de Saramago e as peças de bailado contemporâneo e clássico, a partir da obra do escritor. Além disso, também vão ser publicadas reedições da obra e dois livros novos: uma fotobiografia de Saramago que vai ser dada à estampa no início do próximo ano; e uma edição especial da “Viagem a Portugal”, que foi publicada recentemente. A Porto Editora ainda vai publicar novas capas dos livros de Saramago. Portanto, “será um programa digno da dimensão de José Saramago”. As celebrações vão decorrer em vários pontos do país e até no estrangeiro, como em Lanzarote (ilha espanhola onde o escritor viveu) e no Brasil. Assim, estão previstas sessões em bibliotecas de diferentes zonas do país e as leituras centenárias estão distribuídas por 300 escolas nacionais. Durante o evento foi dada a oportunidade ao público de colocar questões aos diferentes membros do painel. Sérgio Machado Letria terminou a sessão com a leitura de um texto de Saramago intitulado de “Os escritores perante o racismo”, comprovando a atualidade do compromisso ético da escrita de José Saramago. Este artigo foi originalmente publicado no JPN Artigo escrito por: João Múrias

  • Pintar a morte

    O meu fado é esperar por um dia que nunca mais vem. É querer espremer as memórias e mergulhar nelas, esperando que não sequem como outrora as minhas tintas numa paleta. É sonhar para não morrer; é sonhar em morrer. Hoje acordei mais uma vez com vontade de pintar o rapaz que se familiarizou com aquele banco de jardim de letras gravadas em todas as ranhuras. Todas as manhãs sento-me na janela a observá-lo, enquanto o fumo que saía da minha chávena de café aquecia-me as ideias e me desfocava a visão, sem nunca perder foco nele. Queria pintar o seu retrato, mas nunca encontrei o ângulo que me favorecesse. Sim, a mim. Ele dava-se a conhecer sem se aperceber e todas as perspetivas que me oferecia eram singulares. Sei que talvez a minha profissão influencie a maneira como vejo cada contorno do corpo humano, mas sentia que voava com o vento uma certa provocação ambígua e incerta. Acho que nunca me apaixonei por ele, mas por aquilo que o meu pincel poderia vir a sussurrar à minha tela quando lhe desse oportunidade. Contudo, resisti. Olhei para o lado e observei a janela pelo canto do olho, na esperança de o ver. Que estupidez. Por vezes, esqueço-me que mudei de casa. A luz pendia suavemente no escuro, criando sombras que brincavam no chão. Nas paredes ressoavam os breves murmurinhos do corredor, em conjunto com os passos pesados dos chefes da casa. Mudei-me para um lugar com mais pessoas que camas, contra a minha própria vontade. Não havia muito que pudesse fazer. O braço que me suportava a criatividade parou. Não porque deixei de querer que nas veias ecoassem as minhas ideias, mas simplesmente desistiu. Mais tarde, também as minhas pernas receberam sinal. Às vezes questiono-me se o meu cérebro fez tudo isto por triste ciumeira. Talvez fosse penoso ver-me a partilhar com o mundo aquilo que, em antemão, segredava apenas com ele. A tela em que pinto hoje em dia está bem acomodada na minha mente, assim como o conjunto de cores tímidas de que muitas vezes me esqueço. O pincel ainda o sinto (sem o sentir), encostado na minha mão, a dançar comigo. Contudo, entediei-me com a única coisa que me resta. A criação vem do viver, e eu deixei de fazer ambos. Em vez disso, apenas existo, sem realmente ter consciência do que sou. O meu fado é esperar por um dia que nunca mais vem. É querer espremer as memórias e mergulhar nelas, esperando que não sequem como outrora as minhas tintas numa paleta. É sonhar para não morrer; é sonhar em morrer. Ouço o barulho incessante das máquinas. O constante murmurinho de quem me rodeia sem vontade e que me pergunta como me sinto sem que possa responder de volta. Aos poucos deixaram de aparecer. Só resta o meu pai, que me parece molhar a palma da mão, na cadeira do hospital que se afunda a cada respiro mais forte. Pelo que consegui perceber, sorria ao de leve. Achei bizarro. Olhava na direção da pequena televisão, no canto da sala oxigenada, e disse em voz alta “Parece que o Presidente chumbou de novo a Eutanásia”. Podia jurar sentir uma forte dor no estômago. Os sons à minha volta amplificados. A voz a arranhar a garganta com o desespero de querer sair. Lembrei-me do rapaz do banco. Lembrei-me do vapor do café. Lembrei-me do último sorriso que ofereci, acompanhado do último suspiro. A nostalgia do outrora a preencher-me cada poro. Sei porque me sentia assim, mas não percebia porquê. Já me tinha acomodado na falta de esperança. Talvez fosse o sorriso triste na cara do meu pai, em saber que me continua a ter, sem me perder de vista. Fecho os olhos para mais um dia. Antes fosse para nunca mais os abrir. Não vale a pena mantê-los abertos quando tudo o que vivi, é também o que vivo agora. Pinto o meu maior desejo que anda de mãos dadas com aquele que outrora era o meu medo. Pinto a morte, sem me aperceber se estou a retratar o presente ou o futuro. Artigo escrito por: Mafalda Barbosa

  • Ras Kass foi a surpresa da noite no Jump Around

    No palco compareceram, como estava prometido, nomes grandes das quatro vertentes do hip hop nacional (Ras Kass, ex-The HRSMN, foi o convidado surpresa). Num Super Bock Arena a meio gás, assistiu-se a uma viagem pela história da cultura conduzida por Eva Rap Diva. Domingues estava na plateia a vibrar com o concerto: "Isto aqui não é brincadeira", afirmou ao Invicto/JPN. O recinto começou a ganhar vida ainda antes de Eva Rap Diva entrar em palco. Foi a DJ Fifty que coube o papel de ambientar o público jovem que ia chegando, pouco a pouco, ao Super Bock Arena. Inicialmente programado para outubro, o Jump Around chegou na sexta-feira (26) aos palcos do Porto para cumprir a promessa com que foi anunciado: celebrar as quatro vertentes do hip hop. O público não compareceu em massa – a lotação terá andado pela metade -, mas o que esteve vibrou ao longo das quatro horas de espetáculo. Foi já por volta das 22h00 que a rapper angolana tomou conta da casa e deu início a uma viagem pela história do género nascido nos Estados Unidos. O Djing foi o primeiro capítulo em destaque. Com início nos anos 70, o hip hop ganhou vida nos subúrbios de Nova Iorque, porque, recordou Rap Diva, os disk-jockeys procuravam inovação para animar as festas da cidade. No palco do Super Bock Arena, coube ao mestre português dos ‘pratos’, DJ Ride, demonstrar a arte do scratch. O vencedor de dois IDA World DJ Championships deixou o público boquiaberto. Ainda não era o tempo dos “mestres de cerimónia” no Jump Around, mas Eva Rap Diva aproveitou a presença de DJ Ride para falar da relação entre os mestres da palavra e os mestres dos discos. Aos primeiros, disse, cabe “soltar umas rimas”, coisa que tratou de fazer com recurso à indispensável improvisação. Para ganhar a simpatia do público, a angolana pediu uma palavra e, rapidamente, a transformou num verso. Ouviu-se “Porto” e a resposta saiu pronta: “o Rap não está morto”. Era tempo de apresentar o segundo pilar do hip hop: o B-boying. Apesar de historicamente mal-afamado, Eva Rap Diva explicou que o B-boying ocupou muitos dos jovens de Nova Iorque. Deixaram de lutar e passaram a dançar. O Bboy Aiam e a sua crew Freestylerz abriram a pista de dança e foram aparecendo ao longo do evento para mostrar mais da sua arte. No evento, houve também espaço para o MCing. Escrevem para descrever a sociedade, imaginam novas realidades e fazem arte através da poesia, assim são os rappers e MC. Eva referiu alguns nomes antigos desta vertente do hip hop e o público reagiu com particular euforia a uma referência: Barrako 27. Kappa Jotta abriu o desfile de rap e foi o protagonista de um dos pontos altos do concerto, ao pedir ao público para iluminar o Palácio de Cristal com as lanternas dos telemóveis, ao som de “Pela Cidade”. Terminou com um apelo à plateia para que “incomodem” os artistas de que gostam e os apoiem, neste contexto pandémico. O Jump Around quis também promover o hip hop como forma de inclusão. Assim, a organização do evento deu a oportunidade a um amador presente na plateia para “cuspir umas rimas”. Neste seguimento, Rap Diva explicou que o “gangsta rap” inspirou muitos artistas a mudar de vida e, por isso, a frase “podemos mudar a nossa vida com uma rima” serviu de mote à apresentação de Phoenix Rdc. O rapper que cantou “Ingratidão”, “Vencedor” e “Última Noite”, esta última em homenagem à mãe, terminou a atuação com o mais recente single, “Morte do artista”. O grafíti – a vertente que expressa a arte de todos os dias e representa a liberdade – mudou-se por umas horas da rua para o recinto com a missão de “pintar” o evento. Em Portugal, surgiu nos anos 80 e expressava-se contra a falta de liberdade de expressão. MrDheo, que já marcou cidades como São Paulo, Dubai e Joanesburgo tem, no Porto, a maioria dos seus trabalhos. O artista grafitou um mural em direto que, posteriormente, vai ser leiloado a favor de instituições de jovens em risco. A uma atuação do fim do evento, Eva Rap Diva homenageou as mulheres e lembrou Capicua, uma artista de peso no hip hop português, aplaudida com ânimo pelo público feminino. A união foi, mais uma vez, referida e serviu de mote à apresentação da última dupla em palco – Mundo Segundo e Sam The Kid, conhecidos por ligar o Norte ao Sul, de Gaia a Chelas. Os dois artistas fizeram uma viagem pelo repertório musical que criaram em conjunto, numa atuação que contou com uma surpresa. Mundo Segundo e Sam The Kid anunciaram uma “lenda viva do hip hop”, que veio do outro lado do oceano, diretamente para o Palácio de Cristal – Ras Kass subiu ao palco e surpreendeu a plateia. O rapper californiano, um dos quatro cavaleiros do supergrupo de hip hop The HRSMN – com Canibus, Killah Priest e Kurupt – participou em dois temas da dupla portuguesa, ensaiou um “obrigado” e, adiantaram-no os portugueses, está ao que parece em Portugal “para uma temporada”. “Isto aqui não é brincadeira” No final, o público estava satisfeito. Apesar de não ser “a maior seguidora do hip hop”, Laura Costa, de 18 anos, não só gostou como saiu do recinto a saber mais sobre o género: “Foi fixe para mim, porque fiquei a conhecer melhor esta cultura.” Sobre o que mais gostou no espetáculo, a escolha coincidiu com a de Tiago Curralo: Phoenix Rdc. “Ele tem uma mensagem diferente dos outros: mostra que veio de uma vida difícil, que superou com esforço e isso dá me muita motivação para o dia a dia”, considerou o estudante, que elogiou também o “trabalho de ligação” do espetáculo e os rappers que “estiveram fenomenais”. Já Luís Correia “esperava ver mais pessoal” no recinto, enquanto Sara e Penélope tiveram pena de não ter Sam The Kid e Mundo Segundo “mais tempo” em palco. “Não estou a dizer que foi mau, porque não foi! Deu para conhecer outros artistas, que, sinceramente, não conhecia. Mas gostava de ter tido mais tempo deles os dois”, atirou Sara no final. Na plateia encontramos ainda Domingues, o autor do enorme êxito “Fica”, entusiasmado pelo que estava a ver em cima do palco: “já tinha saudades de ver o Kappa em palco, a partir com tudo”, afirmou ao JPN. “É muito importante mostrar a cultura hip hop”, disse ainda, até porque, frisou: “Isto aqui não é brincadeira, nós vivemos mesmo isto, sentimos mesmo isto, seja da música ao breakdance, passando pelo grafíti, curtimos tudo e temos mesmo de mostrar isso e apoiar.” Artigo escrito por: Sara Arnaud e Adriana Resende de Castro Fotografia de: Inês Pinto Pereira e Martim Mota Este artigo foi originalmente publicado em JPN (JornalismoPortoNet)

  • O Futebol é a Igreja Católica do Desporto

    São primos de 2º grau e confundidos por muitos. A Igreja e o Futebol representam aqueles parentes que chegam forçosamente atrasados aos jantares de Natal. Traços semelhantes? Conservadorismo e preconceito, não fossem eles da família d’Os Três F – Futebol, Fátima e Ferrugento. Ao longo da sua existência, foram utilizados como instrumentos de opressão e manipulação por ditaduras desumanas. Caminhamos para o centenário do campeonato nacional de futebol e, até hoje, nunca houve um jogador profissional a assumir a homossexualidade. Nem mesmo depois de abandonar o campo. Na ótica mundial, o cenário é bastante similar, mas já se despontam algumas saídas do armário. “Sou futebolista e sou gay”. Foi assim que o jogador do Adelaide United, Josh Cavallo, marcou aquele que foi (talvez) um dos golos mais importantes da história do futebol ao tornar-se no primeiro profissional ativo a assumir-se homossexual. No testemunho histórico, que emocionou o mundo, o futebolista australiano vincou as dificuldades em manter escondida a orientação sexual para se inserir no estereótipo do futebol, temendo um impacto negativo na carreira. Apenas este ano, foi dado o pontapé de saída para a normalização da homossexualidade. Serão raros os casos ou uma questão de medo de não serem aceites na modalidade? A resposta encontra-se facilmente nos comentários das publicações feitas pelos media relativas ao jogador australiano. A um “enter” de distância, multiplicaram-se intervenções pejorativas, injúrias e depreciações. “Isso é nojento e não tem respeito pela natureza humana”, “Deus criou Adão e Eva e não Adão e Steve” foram alguns dos exemplos. Contudo, a discriminação trespassa as barreiras do online e contamina o estádio. Os fãs, infetados com doses colossais de ódio, repudiam qualquer iniciativa pró-LGBT+, como é o caso da campanha “Rainbow Laces”. Promovida pela Premier League, trata-se de, durante alguns jogos, os atletas utilizarem braçadeiras de capitão com as cores LGBT+. Também em junho deste ano, mês em que se celebra o “pride month”, a UEFA proibiu a arena de Munique de prestar uma homenagem e iluminar o estádio com as cores da bandeira LGBT+. O desporto-rei carrega nas costas os preceitos tribais e rígidos de uma sociedade “masculinizada”. Aos olhos dos adeptos, a modalidade é sinónimo de virilidade. Com isto, a imagem de um jogador homossexual é incongruente num campo de futebol, como se existisse uma relação entre orientação sexual e ter ou não força física. É um jogo de nobres, assistido por feras. As bancadas tornam-se palco de discursos insultuosos e ambientes parcamente inclusivos. É habitual más jogadas e más ações de determinado jogador espoletarem um grito ensurdecedor e unânime de ataques homofóbicos. Esta atitude estabelece um casamento forçado com a “masculinidade tóxica” dominante na generalidade dos balneários das equipas. São várias as razões que influenciam a decisão de um futebolista em não se assumir ao público. Por trás de um denso manto de silêncio, refugiam-se inquietudes e medos, vidas duplas e tormentos múltiplos. É urgente reforçar as medidas de prevenção e proteção de futebolistas homossexuais. Cabe às grandes entidades do futebol jogar a favor dos direitos humanos, apostar em ações de sensibilização e tornar o desporto um meio inclusivo. Para os homossexuais, o jogo começa muito antes do apito inicial, porque viver de forma clandestina é uma missão ingrata, penosa e sufocante. Josh Cavallo abraçou a igualdade num desporto que se mostra desigual, de diversas formas. Apesar do seu ato resiliente e corajoso, a homossexualidade e comportamentos discriminatórios continuam lado a lado no futebol. Desde os balneários às bancadas, ínfimos passos e ritmo lento caracterizam o longo caminho a percorrer. A linha tênue entre Igreja Católica e Futebol perpassa as linhas do campo e fundamenta-se em discursos de ódio e preconceituosos. É hora de, no desporto-rei, assumir-se os pecados, “chutar para canto” a homofobia e reinar a integração, pois quando um jovem pousa as chuteiras por insegurança é uma derrota para o mundo do futebol. E eu pergunto: quantos futuros astros da bola já deixamos escapar? Artigo escrito por: Sara Arnaud

  • Glória: o sucesso está no nome

    Resultado de uma produção entre SPi e a RTP, Glória é a primeira série portuguesa original a chegar à plataforma de streaming Netflix. É um thriller de espionagem e ação, que nos envolve não só pelo mistério, mas que nos transporta numa viagem temporal, pela altura em que os extremismos nunca caíram em desuso. E se fôssemos até ao Ribatejo e questionássemos os habitantes pelos espiões da CIA e do KGB que por ali passaram? Referíamos ainda os tempos da Guerra Fria, em que mesmo por detrás da Cortina de Ferro, era Portugal que mantinha uma fachada de poder imposta. Era bem provável que apelassem à nossa loucura, mas a prova é visual e pode chegar a mais de 190 países e a mais de 213 milhões de casas em todo o mundo. Chama-se Glória e constitui uma marco no meio audiovisual português. Não, não é uma novela. Está na televisão, mas não é só na portuguesa. A história passa-se durante o Estado Novo, tempo de Portugal camponês e analfabeto, em que se enchiam os bancos, mas esvaziavam-se as casas, deixando mães sem filhos e mulheres sem marido. Contudo, é o confronto internacional que dá origem à ação principal: uma ação que transcende a monotonia da vida do campo. É na pequena aldeia da Glória que está localizada a RARET – “RA” de rádio e “RET” de retransmissão - um centro americano de transmissões radiofónicas que tinha como principal objetivo partilhar discursos de exilados no lado de cá da barricada vermelha e espalhar a mensagem dos países do ocidente. A personagem principal, João Vidal (Miguel Nunes), é a caricatura do herói romântico da atualidade. Filho de um membro do governo de Salazar, o foco principal da história vai permanecer na colisão de doutrinas antagónicas às da sua família e na luta pelo pensamento que lhe vai na alma, que pertence também ao outro lado da Cortina. Assim que retorna de África, fortemente magoado pela guerra, João é recrutado pelo KGB e obrigado a realizar uma série de missões vermelhas, dentro e fora da RARET. Numa eterna batalha consigo mesmo e em permanente rejeição do mundo em que habita, Vidal atrai-se rapidamente por Carolina (Carolina Amaral), a empregada do bar da estação de rádio. Trata-se de um amor genuíno e puro, sem infantilidade política. A relação entre ambos é um escape das variadas cores que pintam os discursos na pequena aldeia, o que o torna desde logo impossível. Contudo, também os dramas que transcendem a vida de João ajudam a pintar melhor o retrato de Portugal no final dos anos 60. Desde a violência doméstica, a soldados perdidos em guerra ou a frieza de ruas dominadas pela PIDE, todo o quadro ficcional fica fortemente marcado pela crueza da realidade. Ganhando o título de série portuguesa com o maior orçamento de sempre, havia grande expectativa para que esta produção entre a SPi e a RTP tivesse apostado num grande investimento em pormenores - e que os mesmos fossem visíveis. Este é um dos outros grandes aspetos a sublinhar. Apesar dos estúdios antigos da RARET estarem em estado deplorável, a recriação dos mesmos foi pensada ao pormenor, bem como o bairro em que habitam os trabalhadores, que foi filmado no local original, alternando entre quatro habitações. O arquétipo das antigas casas “à americana” são uma verdadeira cápsula do tempo. Embora a presença de grandes nomes, como Albano Jerónimo, Vitória Guerra, Joana Ribeiro, entre outros, são os pequenos que fazem da série gloriosa. No papel que é provavelmente o mais importante da sua carreira, Miguel Nunes confere uma aura misteriosa ao longo de todos os episódios, deixando-nos a questionar constantemente quem é de facto o pior vilão - numa narrativa onde podem existir diversos. É uma série de eventos ficcionados, mas as personagens possuem nome e corpo real. Viveram uma situação única no nosso país que poucos de nós conhecem, nos ecos de uma guerra que não sabíamos ter congelado as nossas próprias solas. A novidade deste tipo de projetos no panorama televisivo português são a desculpa perfeita para deixarmos de acreditar que no nosso país não existe conteúdo de valor e que o investimento não é necessário. Está aqui a prova de que não precisamos de 300 episódios para ficar de barriga cheia - mastigar apenas 10 de qualidade dá-nos vontade de querer muito mais. Artigo escritor por: Mafalda Barbosa

  • Abusos sexuais na República Democrática do Congo dentro e fora de casa

    Ao longo dos anos, as denúncias de abusos sexuais de mulheres congolesas têm vindo a aumentar gradualmente, abrangendo não só familiares como trabalhadores humanitários. As vozes das vítimas têm sido ouvidas e ganham cada vez mais força nesta luta. Há uma década que se fazem ouvir as vítimas da República Democrática do Congo. Um estudo publicado no American Journal of Public Health revelou que neste país mais de 400 mulheres são violadas por ano e cerca de 60% dos abusadores eram familiares, incluindo os próprios maridos. Por outro lado, um estudo anterior divulgado pela Organização das Nações Unidas estima que a violência sexual nesse mesmo ano era 26 vezes menos comum – atingindo 15 mil mulheres. A investigação foi conduzida entre 2006 e 2007 através de dados do Governo e contou com os testemunhos de 3400 mulheres, cujas idades compreendiam os 15 e 49 anos. Tia Palermo, umas das autoras do estudo americano, acredita que “em nenhum lugar do Congo, uma mulher está a salvo da violência sexual”. O Governo da República Democrática do Congo reconheceu, em 2008, viver uma crise de violações em massa no país. A Organização das Nações Unidas definiu o país como “a capital mundial da violação”. Condenação perpétua das mulheres Youyou Muntu Mosi, militante congolesa e defensora dos Direitos Humanos, afirmou, em entrevista ao The British Blacklist, que a mulher congolesa, se for violada, é discriminada socialmente. É violentada, física e psicologicamente, pelo companheiro e colocada de parte pela própria família. Mosi disse que estas mulheres “estão mais sujeitas à precariedade, ao isolamento, ao desemprego e a certa estigmatização social, ligada precisamente à violência sexual, física e/ou psicológica sofridas”. De trabalhadores humanitários a abusadores O vírus do ébola foi descoberto em 1976 na atual República Democrática do Congo (RDC). Desde então, ocorrem surtos esporádicos em África. Entre 2014 e 2016, a doença devastou a região oeste do continente africano e é considerada a pior epidemia da história da República Democrática do Congo. Em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou uma “emergência global de saúde pública”. No início de maio, a RDC declarou o final da 12.ª epidemia de ébola no país. Contudo, no início de outubro, uma criança de 3 anos morreu com o vírus do ébola. Durante esta longa luta de esforços para combater a doença, as denúncias de exploração e abusos sexuais por parte de funcionários da Organização Mundial da Saúde têm aumentando gradualmente. As múltiplas denúncias, divulgadas pela Reuters, surgiram de uma investigação realizada pela Thomson Reuters Foundation e pela New Humanitarian. Os relatos das vítimas foram confirmados por funcionários locais e motoristas de organizações não-governamentais e humanitárias, respetivamente. Muitas das entrevistadas referiram que os homens propunham ou as obrigavam a ter relações sexuais em troca de contratos de trabalho. Quando o pedido era rejeitado e a vítima já estava a trabalhar, o contrato terminava. Os casos reportados nesta investigação englobam os anos de 2018 a 2020, em Beni, província do Kivu Norte. O facto dos números serem altos e as denúncias serem bastante semelhantes indicam que a prática era generalizada. Os relatos são contra homens que trabalhavam na OMS, incluindo médicos, e funcionários do Ministério da Saúde da RDC, de outras agências da ONU e também de quatro ONGs internacionais. As mulheres afirmam terem sido encurraladas nos centros de emprego e nos hospitais – onde eram afixadas as listas de quem tinha conseguido trabalho. Também relatam terem sido trancadas e drogadas. Muitos não usaram preservativo e algumas das vítimas engravidaram, sendo que parte dos alegados abusadores insistiam para que as mulheres abortassem. A maioria das vítimas não fez queixa até serem contactadas pelos jornalistas com receio de perder o emprego, de possíveis vinganças e por vergonha. Kahambu, uma das vítimas, relatou à DW África que "há também alguns que foram infetados com doenças sexualmente transmissíveis, como SIDA, porque a maioria das ajudantes estava doente. É o caso de uma mãe que trabalhava connosco. Um de nossos chefes, recentemente foi diagnosticado seropositivo". Desanges, uma das denunciantes, culpa um médico da OMS pela morte da sua irmã, Pendeza. Desanges relatou que o médico, assim que soube que Pendeza tinha engravidado, desapareceu e não atendeu as chamadas telefónicas. Assim, para esconder a gravidez do marido, decidiu correr o risco de fazer um aborto. Quando se dirigiu ao hospital, os funcionários assumiram que a hemorragia era devido ao ébola e não de um aborto mal feito, isolando-a com os restantes pacientes. Pendeza acabou por falecer nessa mesma noite e foi enterrada como uma vítima da doença. A resposta da OMS No início de outubro, a União Europeia suspendeu o financiamento dos programas da Organização Mundial de Saúde, na República Democrática do Congo, após tomar conhecimento dos abusos, explicou Balazs Ujvari, porta-voz da Comissão Europeia. Em 2020, a OMS anunciou que todos aqueles envolvidos nas acusações de exploração e abuso sexual na resposta ao ébola na RDC vão enfrentar consequências imediatas. A organização disse ter “tolerância zero” para este tipo de comportamento. A OMS confirmou já nessa altura que iria abrir uma investigação interna. Artigo escrito por: Inês Cristina Silva

  • Vox Pop: Maioria dos portugueses aponta para uma mudança política

    O Invicto saiu à rua para ouvir os portugueses e perceber qual a opinião sobre a decisão do Presidente da República de dissolver o Parlamento. A maioria concorda com a data escolhida para a realização das eleições antecipadas. Quanto aos cenários pós-eleitorais, os portugueses olham para um futuro de mudança. Áudio e edição: Mafalda Barbosa e Sara Arnaud Artigo publicado originalmente no jornal online JPN

  • Obras no metro aumentam trânsito em Santo Ovídio

    O prolongamento da linha amarela obrigou ao encerramento do túnel de Santo Ovídio por 18 meses. Consequentemente, o trânsito na rotunda aumentou. Os utentes de transportes públicos queixam-se do aumento do tempo de viagem e do acréscimo do tempo de espera. A Metro do Porto salvaguarda que a procura ainda não atingiu números pré-pandemia. As obras de expansão da linha amarela até Vila d’Este acabam no final de 2024. Áudio e Edição: Inês Cristina Silva e João Múrias Fotos: João Múrias Artigo publicado originalmente no jornal online JPN

  • Concerto de Travis Scott abre duas investigações

    No Festival Astroworld, em Houston, no Texas, durante o concerto do rapper Travis Scott, morreram pelo menos 8 pessoas e dezenas ficaram feridas. As autoridades abriram duas investigações após relatos de pessoas injetadas com drogas. No festival estavam quase 50 mil pessoas. A compressão da multidão em direção ao palco, por volta das 21h00 de sexta-feira à noite (02h00 de sábado, em Lisboa), ocorreu durante a atuação do rapper Travis Scott, na primeira noite do Festival Astroworld. Em declarações ao The New York Times, o presidente da câmara de Houston revelou que a maioria das vítimas compreendem as idades entre os 16 e 23 anos. Contudo, a vítima mais nova era um adolescente de 14 anos e a mais velha tinha 27 anos. O chefe de polícia de Houston, Troy Finner, pediu, em declarações à imprensa, que não se tirassem conclusões precipitadas do incidente, realçando que há especulações a circular nas redes sociais sobre as possíveis causas que terão levado às mortes."Vamos fazer uma investigação e descobrir porque não é justo para os produtores, para todos os envolvidos, até determinarmos o que aconteceu", disse. O chefe de polícia de Houston chamou ainda a atenção para um incidente de um segurança que foi assistido pelos bombeiros por ter sido, aparentemente, injetado no pescoço. Troy Finner adiantou que foram abertas duas investigações: uma relativa às causas que conduziram ao esmagamento das pessoas junto ao palco e a segunda para averiguar as denúncias referentes à possibilidade de haver alguém a injetar drogas na multidão durante o concerto. "Temos o relato de um segurança que foi tratado pelo pessoal médico. Ele contou que estava a tentar segurar um cidadão e sentiu uma picada no pescoço. Quando foi examinado perdeu a consciência", disse Finner. "Administraram Narcan, reanimaram-no e os médicos notaram uma picada semelhante à de alguém que foi injetado", acrescentou o chefe de polícia de Houston. O chefe dos bombeiros de Houston, Samuel Peña, declarou à imprensa que o número de vítimas mortais pode aumentar. Levaram cerca de 20 pessoas para o hospital devido ao esmagamento da multidão, sendo que 11 se encontravam em paragem cardíaca. Peña acrescentou que a causa da morte só pode ser confirmada após a conclusão dos exames médicos. O chefe dos bombeiros de Houston confirmou ainda que várias pessoas tiveram de ser reanimadas com , o Narcan, um fármaco que reverte overdoses de droga. A jornalista Mycah Hatfield relatou o caos e descontrolo que já se vivia antes do festival dar início: “Centenas de pessoas destruíram a entrada de segurança VIP, evitando o posto de controle. Algumas foram presas”. São vários os vídeos que estão a circular pelas redes sociais que confirmam como o recinto estava cheio e caótico. Da mesma forma, há vídeos de pessoas a serem reanimadas durante o concerto. O jornal Houston Chronicle disse que Travis Scott interrompeu o concerto várias vezes durante a atuação, sempre que detetava fãs em dificuldades, tendo pedido ajuda. O rapper já comunicou no Twitter que está devastado e disponível para colaborar com as autoridades na investigação. Porém, diversas pessoas presentes no concerto relatam que o músico foi negligente. Declaram que o rapper não cooperou e desrespeitou as autoridades durante o incidente, ignorando, assim como a equipa, os pedidos de ajuda dos fãs. O rapper e a organização do festival, Live Nation, vão enfrentar vários processos, confirmou a empresa de advogados Thomas J. Henry Law. Muitos dos festivaleiros que sofreram lesões corporais graves, acusam a organização de negligência quanto à segurança no festival, afirmando ter sido uma tragédia previsível. As autoridades ainda não concluíram se Travis Scott conseguia efetivamente estar ciente do que estava a acontecer na plateia, a partir do palco. O Festival Astroworld já anunciou o cancelamento do evento, que ia durar apenas dois dias, e comunicou estar a cooperar com as autoridades envolvidas. Artigo escrito por: Inês Cristina Silva

  • Uma Web Summit portuguesa, com certeza

    A globalização elevou o ritmo pelo qual pautamos as nossas vidas e não há qualquer dúvida acerca do papel futuro das novas tecnologias nos inúmeros empreendimentos humanos. Numa altura em que a União Europeia procura estar na vanguarda da transição digital, não poderia ter sido mais oportuno o regresso da Web Summit ao Parque das Nações. Ao longo de quatro dias, Lisboa acolheu mentes provenientes de variadíssimas zonas do globo e a capital dançou ao som da tecnologia. Entre a promessa da nova “fábrica de unicórnios” de Carlos Moedas e o discurso cativante de Pedro Siza Vieira, a cerimónia de abertura da edição do super evento tecnológico deste ano subiu a fasquia para os restantes dias de networking e troca de ideias. A globalização elevou o ritmo pelo qual pautamos as nossas vidas e não há qualquer dúvida acerca do papel futuro das novas tecnologias nos inúmeros empreendimentos humanos. Para o melhor e o pior, é na tecnologia e em todas as suas infraestruturas associadas que confiamos para comunicar, trabalhar, contribuir para o avanço da ciência e responder a enredadas crises com as quais nos deparamos, como a luta contra as alterações climáticas. Por outro lado, a pandemia veio salientar não só a nossa dependência de uma tecnologia de qualidade e fiável, mas também a importância de o Velho Continente não depender de outras regiões do mundo para a sua implementação e uso. Nos últimos anos, os gigantes de Silicon Valley têm conquistado todas as frentes relativas à inovação tecnológica e a Europa procura agora mais autonomia. Foi sob esse mote que Comissão Europeia esteve presente nos palcos coloridos da Web Summit. Através do seu Programa Europa Digital, a União Europeia quer trilhar o caminho para a transição digital, unindo o investimento milionário em várias áreas estritamente ligadas à inovação tecnológica a outras como a transição verde. O investimento é avultado e as instituições europeias querem vê-lo bem aplicado, procurando a máxima eficiência. “Inovação” é a palavra da ordem do dia em Bruxelas e a Web Summit revelou-se, uma vez mais, o expoente máximo do contacto e diálogo tecnológico entre entusiastas vindos de centenas de países diferentes. Mais uma vez, Portugal atendeu às expectativas. O evento foi um sucesso e a receção calorosa de Filomena Cautela a todos os presentes ficará, certamente, na memória de todos os curiosos que escolheram o nosso país para estes quatro dias de inovação. Entre reuniões e palestras, foi ainda possível provar os sabores de Lisboa e, enquanto Paddy Cosgrave assistia maravilhado ao discurso de encerramento arrebatador de Marcelo, a sua equipa já só pensa nos preparativos para a próxima edição. Até 2026 a capital portuguesa continuará a ser o palco deste evento, precisamente numa década fundamental para os moldes segundo os quais construiremos o nosso futuro, moldes esses em que a tecnologia, mais do que nunca, será o motor para a inovação e mudança. Artigo escrito por: Afonso Morango

  • Presidente da República anunciou eleições para dia 30 de janeiro de 2022

    Marcelo Rebelo de Sousa confirmou a dissolução da Assembleia da República e marcou eleições legislativas antecipadas para o final de janeiro. Esquerda e Direita divergem nas opiniões. Marcelo Rebelo de Sousa falou ao país ontem à noite em direto do Palácio de Belém, em Lisboa, e anunciou que "uma semana e um dia depois da rejeição do Orçamento para 2022” podia finalmente revelar que decidiu “dissolver a Assembleia da República e convocar eleições para o dia 30 de janeiro de 2022”. A escolha da data das eleições recai sobretudo na preocupação em evitar a abstenção. Segundo a Constituição, as eleições legislativas antecipadas devem ser realizadas nos 60 dias que sucedem a dissolução do Parlamento. O chefe de Estado revelou que realizar campanhas e debates televisivos em momentos festivos como o Natal ou o Ano Novo era indesejável e podia ser “meio caminho andado para um aumento da abstenção". Apesar de se tratar de “um orçamento especialmente importante, num momento especialmente importante”, o Presidente da República afirmou que esta se trata de uma situação onde “existe sempre uma solução em democracia, sem dramatizações nem temores, faz parte da vida própria da democracia: devolver a palavra ao povo”. PCP E PSD: insatisfeitos com a decisão de Marcelo O PCP foi o primeiro partido a reagir ontem à noite. O deputado comunista António Filipe afirmou que ao prolongar a data das eleições até ao final de janeiro, aparentava que Marcelo Rebelo de Sousa estivesse a “pôr à frente dos interesses nacionais, conveniências de candidaturas à liderança dos partidos de direita”. Rui Rio, atual líder do PSD, conteve-se nos comentários sobre a decisão de Marcelo. "Presidente decidiu, está decidido, ponto final parágrafo", comentou numa entrevista na TVI. Sublinhou, no entanto, que o próximo Orçamento de Estado não estará pronto pelo menos até junho ou julho. O candidato para a liderança do PSD respondeu à acusação de António Filipe, afirmando que se o Presidente da República estivesse a prestar ajuda ao seu partido, as eleições teriam de ser realizadas apenas em abril. Esquerda esperava outro resultado Pedro Filipe Soares, líder parlamentar do Bloco de Esquerda, afirmou que o partido não desejava a realização de eleições e pretendia “um orçamento que não faltasse aos portugueses neste momento fundamental". Contudo, o líder parlamentar do BE acredita que não existe necessidade de uma guerra política em relação à data das eleições. “Da mesma forma que ninguém percebeu que o senhor primeiro-ministro pretendesse fazer uma crise política para impedir a valorização de pensões, para garantir direitos a quem trabalha ou para faltar ao investimento necessário para uma garantia de qualidade do SNS, também creio que ninguém compreenderá que se faça uma guerra política em torno da data das eleições.”, afirmou ainda. Mariana Silva, do PEV, afirmou que os Verdes também apelaram por eleições mais cedo. O partido ecologista sugeriu o dia 16 de janeiro como “uma possibilidade, para que o próximo Orçamento do Estado possa entrar o mais rapidamente possível em funções”, além de terem avisado o PR de que haveria mais soluções sem ser o chumbo do Orçamento de Estado. O PAN, presidido por Inês Sousa Real, pretendia que a dissolução do parlamento acautelasse a necessidade imediata de um novo orçamento, bem como garantisse tempo suficiente à Assembleia da República para “concluir processos legislativos, que estavam em curso, da maior importância”. PS "tudo fez para evitar esta crise política" O Secretário-Geral adjunto do Partido Socialista, José Luís Carneiro, afirmou que o partido fez todos os possíveis para que uma crise política fosse evitada. Referiu também que o Orçamento de Estado proposto “previa mais investimento público na saúde, na educação, na habitação e nos transportes e tinha apoios muito robustos para as empresas e para a economia”. Contudo, apesar da tentativa do Partido Socialista, José Luís Carneiro acredita que “os partidos rejeitaram as propostas do Governo sabendo que o Presidente da República havia anunciado que convocaria eleições se o orçamento fosse reprovado”. “Compreendemos e respeitamos a decisão do senhor Presidente da República”, concluiu. Maioria na direita confortável com a data das eleições. CDS-PP procura nova alternativa. Tanto a Iniciativa Liberal como o Chega se mostraram satisfeitos com a data proposta pelo Chefe de Estado. Cotrim de Figueiredo afirmou que Marcelo “fez três leituras que coincidem em tudo com o que a Iniciativa Liberal pensa também”. “A primeira leitura é que a solução governativa que tivemos desde 2015 ruiu e que, portanto, é urgente dar voz de novo aos portugueses”. Além disso, o líder da IL afirmou que faz sentido não incluir campanhas eleitorais na época festiva, uma vez que “a decisão que nessa eleição terá que ser tomada pelos portugueses merece uma campanha esclarecedora”. Enumerou ainda que confrontados com “uma situação de crise que ninguém desejava, a democracia tem sempre soluções e temos que encarar estas situações com normalidade, serenidade e com sentimento de esperança”, como também havia afirmado o chefe de Estado. Já André Ventura, do Chega, afirma que apesar da data escolhida não coincidir com a que o partido apresentou, compreende as razões do Presidente da República. O líder do partido revelou ainda que considerava que Marcelo Rebelo de Sousa tinha deixado bem claro “pela forma, pelo conteúdo e pelo estilo” a “quem aponta o dedo por esta crise política”. Contudo, a perspetiva do CDS-PP é diferente devido à necessidade de adiar o congresso eletivo dos centristas, que se realizaria entre 27 e 28 de novembro. Cecília Anacoreta Correia, porta-voz do partido, referiu que não é possível que o congresso previsto se realize antes das eleições legislativas, uma vez que o partido tem "apenas seis semanas" para se preparar e apresentar as listas. “Eleições no dia 30 de janeiro significa que teremos de apresentar as listas fechadas no dia 20 de dezembro", disse. A porta-voz do CDS reforçou também que todos os recursos do CDS-PP devem "estar absolutamente centrados na preparação de uma alternativa para oferecermos ao país e uma alternativa de programa permita recuperar a confiança de todos os eleitores que nos abandonaram as últimas eleições legislativas”. Artigo escrito por: Mafalda Barbosa

  • IVAucher: Desconto nos combustíveis até março de 2022

    Portugal já ultrapassou a média da União Europeia nos preços dos combustíveis. Alguns postos de abastecimento excederam, pela primeira vez, os 2 euros por litro. Através do IVAucher, o Governo diz ser capaz de atenuar este aumento significativo. O desconto chega, no máximo, a cinco euros por mês e vai ser prolongado até março de 2022. Após a baixa no Imposto sobre os Produtos Petrolíferos (ISP), o Governo anunciou no dia 28 de outubro uma nova medida – o IVAucher – que pretende, da mesma forma, aliviar a subida dos preços dos combustíveis. A medida entra em vigor no dia 10 de novembro e está previsto que perdure até março de 2022. Desta maneira, o desconto acumulado, durante os cinco meses, pode chegar aos 25 euros, tendo em conta o desconto máximo de cinco euros mensais. A plataforma IVAucher foi anteriormente montada como um programa que permite aos consumidores beneficiarem de um desconto de 50% nos consumos na restauração, alojamento e cultura – apenas nos estabelecimentos aderentes. Neste contexto, seria utilizado o montante do IVA que foi acumulado em consumos dos três sectores. A nova medida que vai entrar em vigor é um desconto correspondente a dez cêntimos por litro nos combustíveis até 50 litros por mês por consumidor. Segundo anunciou o Governo no Parlamento, todas as famílias podem beneficiar desta nova medida extraordinária, desde que se registem na plataforma IVAucher, independentemente se já o tinham feito para usufruir do reembolso dos consumos na restauração, alojamento e cultura. O pagamento tem de ser feito através de cartão – multibanco, crédito ou outro – e não é obrigatório pedir fatura. As bombas também têm de aderir ao programa IVAucher. Os consumidores recebem o reembolso na conta bancária, através do IVAucher, até dois dias após o pagamento na bomba. O desconto é apenas aplicado com um cartão bancário emitido por uma entidade que também tenha aderido à plataforma, tais como a Caixa Geral de Depósitos, o BCP, o Santander, o Novo Banco, o BPI, o Montepio, a Caixa de Crédito Agrícola, o Banco CTT, o ActivoBank, o BBVA, o Bankinter, entre outros. O aumento dos combustíveis O mais recente boletim sobre combustíveis da Comissão Europeia, relativo ao 2º trimestre, revela que Portugal ocupa atualmente a sexta posição no ranking dos combustíveis mais caros. O preço da gasolina e do gasóleo estão, atualmente, acima da média da União Europeia. Muitos são os portugueses que aproveitam as viagens para abastecer no país vizinho, cuja diferença de preços chega a quase 36 cêntimos por litro. No início da pandemia houve uma ligeira diminuição do valor dos combustíveis, contudo, desde maio de 2021, os preços subiram cerca de 36 vezes. Comparando com o início do ano, encher o depósito agora com 60 litros de gasolina e gasóleo custa mais cerca de 18 e 15 euros, respetivamente. A subida dos preços, pelos olhos da indústria petrolífera, deve-se à retoma económica no pós-covid e, posteriormente, no aumento da procura, que não foi acompanhada por uma rápida resposta do lado da produção. Assim, para além do aumento da cotação do preço do petróleo, houve um aumento da cotação dos produtos derivados do mesmo, entre eles o gasóleo e a gasolina. André Matias de Almeida, porta-voz da Associação Nacional de Transportes Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM), afirmou, em declarações à RTP, que o setor enfrenta "o maior aumento salarial da história desde o 25 de Abril". O responsável referiu também que as empresas estão no seu limite de sobrevivência e, posteriormente, haverá potenciais despedimentos. A redução do ISP Depois da descida de dois cêntimos, o Governo reduziu novamente o valor do Imposto sobre os Produtos Petrolíferos. A medida entrou em vigor dia 16 de outubro. António Mendonça Mendes, secretário de Estado Adjunto e dos Assuntos Fiscais, adiantou que “em face do aumento do preço médio de venda ao público dos combustíveis, o Estado arrecada um valor superior a 60 milhões de euros de IVA [na comparação entre 2019 e 2021] e, por isso, vai repercutir na diminuição das taxas de ISP este valor de acréscimo que aufere”. Portanto, o Governo pretende “repor o IVA que é recebido a mais, [que] é integralmente devolvido aos consumidores através da diminuição da taxa de ISP”, explicou. António Mendonça sublinhou que esta medida pretende levar as empresas a refletir no preço de venda ao público. O secretário de Estado Adjunto e dos Assuntos Fiscais acrescentou ainda que “é um mecanismo que já usámos no passado, em 2016, quando os preços estavam muito reduzidos, em que se aumentou o ISP para compensar a descida da receita do IVA”, estando agora o Governo a usar “o mesmo mecanismo, mas para fazer o contrário”. Artigo escrito por: Inês Cristina Silva

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