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56 itens encontrados para ""

  • Pandemia pode acabar com 125 milhões de empregos em 2021

    A Organização Internacional do Trabalho estima que até ao final do ano sejam perdidos 125 milhões de empregos. As disparidades em relação aos apoios económicos e à vacinação aumentam o fosso entre os países desenvolvidos e países em desenvolvimento. Com base na 8ª edição do estudo do ILO Monitor, “COVID-19 e o mundo do trabalho”, divulgado dia 27 de outubro, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima “que o número global de horas de trabalho em 2021 será 4.3% inferior aos níveis pré-pandémicos (o quarto trimestre de 2019), o equivalente a 125 milhões de empregos a tempo completo”. Isto significa que é necessário recuperar 125 milhões de empregos a tempo inteiro, para que o mercado laboral regresse a níveis idênticos de 2019. A agência das Nações Unidas considera que este valor é uma “revisão dramática da projeção da OIT em junho”, que apresentava a perda de 100 milhões de empregos, pois a recuperação do mercado laboral global estagnou. Segundo a organização, na génese deste problema está a disparidade entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento, que se intensificou com a propagação do novo coronavírus. Assim, a OIT refere em comunicado que “a perda de horas de trabalho em 2021 devido à pandemia será significativamente maior do que foi estimado, uma vez que uma recuperação a duas velocidades entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento ameaça a economia global como um todo”. Deste modo, a OIT reforça a urgente necessidade de haver “um apoio financeiro e técnico real” capaz de combater as divergências na recuperação do emprego, entre países pobres e ricos. “No terceiro trimestre de 2021, o total de horas de trabalho nos países de elevado rendimento foi 3.6% inferior ao verificado no quarto trimestre de 2019. Pelo contrário, a diferença nos países de baixo rendimento era de 5.7% e nos países de rendimento médio-baixo, de 7.3%”, lê-se no comunicado. A região da Europa e da Ásia Central foram as que registaram menor perda de horas trabalhadas (2.5%), seguidas pela Ásia e o Pacífico com 4.6%. A África, as Américas e os Estados Árabes apresentaram declínios de 5.6%, 5.4% e 6.5%, respetivamente. O relatório revela ainda que a crise da covid-19, afeta mais os jovens, especialmente as jovens mulheres a encontrarem oportunidades de trabalho. Vacinação completa impulsiona a criação de emprego A Organização Internacional do Trabalho também apresenta a discrepância no processo de vacinação e nos pacotes de estímulo orçamental como causas desta estimativa. No segundo trimestre de 2021, para cada 14 pessoas com a vacinação completa era criado um emprego a tempo completo, impulsionando “substancialmente a recuperação” do mercado de trabalho global. No entanto, devido à desigualdade no acesso a vacinas, este efeito positivo foi maior nos países de rendimento elevado, enquanto nos países de rendimento médio-baixo foi “negligenciável” e nos países de rendimento baixo foi “quase nulo”. De acordo com o relatório, no início de outubro do ano corrente, 34,5% da população mundial estava totalmente vacinada. Porém, analisando regionalmente, os países de alto rendimento apresentavam uma taxa de 59,8% da população vacinada, enquanto os de rendimento médio tinham vacinada apenas 14,6% da população. Em último lugar, os países de baixo rendimento ficavam-se pelos 1,6%. A OIT considera que os desequilíbrios na distribuição de vacinas da covid-19 poderiam ser “rápida e eficazmente resolvidos” através de uma “maior solidariedade global”. Além do mais, caso os “países de baixo rendimento tivessem um acesso mais equitativo às vacinas, a recuperação do número de horas trabalhadas alcançaria as economias mais ricas em pouco mais de um trimestre”, esclarece o comunicado. Os pacotes de estímulo orçamental também são divergentes entre países, “com cerca de 86% das medidas de estímulo global a concentrarem-se em países de elevado rendimento”. Em relação ao último trimestre de 2019, as estimativas revelam que, em média, um aumento do estímulo orçamental de 1% do PIB anual fez aumentar as horas de trabalho anuais em 0.3%. Nesta equação ainda temos de contabilizar a quebra da produtividade dos trabalhadores, por causa da pandemia. De acordo com o relatório da ILO Monitor, em 2020, o trabalhador médio de um país desenvolvido produziu 17,5 vezes mais por hora, do que o trabalhador médio em um país em desenvolvimento. Este ano, esta diferença aumentou para 18, o valor mais alto desde 2005. Assim, o diretor-geral da OIT, Guy Ryder, conclui que "de forma dramática, a distribuição desigual de vacinas e capacidade orçamental estão a impulsionar estas tendências [divergências entre economias desenvolvidas e em desenvolvimento] e ambas precisam de ser resolvidas urgentemente". Artigo escrito por: João Múrias

  • Tensão entre UE e Polónia continua, mas sem “Polexit” à vista

    A União Europeia e a Polónia entraram em conflito devido às reformas no sistema judicial polaco e ao incumprimento das leis e normas comunitárias. As trocas de acusações têm sido constantes, mas ninguém quer que a Polónia saia da União Europeia. O primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki, acusa a Comissão Europeia de estar a negociar com a Polónia com “uma arma apontada à cabeça”. A controversa declaração foi dita em entrevista ao Financial Times e deve-se às exigências da União Europeia (UE) de obrigar a Polónia a recuar nas suas reformas judiciais e ao ameaçar o país com sanções económicas. As divergências entre os dois executivos iniciaram-se quando o governo nacionalista e populista polaco quis aplicar reformas no respetivo Supremo Tribunal. O objetivo era de acabar com a corrupção dos juízes e com a herança comunista na Justiça do país, garantido a independência do sistema judicial. Assim, criaram um Conselho Disciplinar capaz de decidir sobre os pedidos para iniciar um processo penal contra juízes ou juízes auxiliares para os manter em prisão preventiva, para os prender ou para os apresentar perante o tribunal, por exemplo. A Comissão Europeia (CE) considerou o caso uma violação da independência do poder judicial, por parte do poder legislativo. A CE argumentou que as medidas elaboradas pela Polónia infringem as leis comunitárias, nomeadamente o artigo 19 do Tratado da União Europeia e o artigo 47 da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, que estabelecem a separação de poderes e a consequente independência dos tribunais. O sucedido levou a UE a invocar o artigo 7º do tratado e a ameaçar retirar o direito de voto do representante da Polónia no Conselho. Mais tarde, foi a vez do Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE) de avaliar que o conselho disciplinar de juízes na Polónia é contrário às leis da União, pois permite que este conselho tome decisões com impacto direto nos juízes e no seu exercício de poderes, inviabilizando a imparcialidade. No entanto, o Supremo Tribunal da Polónia afirmou que a decisão do TJUE viola a Constituição polaca e, como tal, o país não deve aplicá-la. Uma resposta que se opõe a um princípio fundamental da UE, o da primazia das leis europeias sobre as leis nacionais. Face a esta resposta, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, reagiu num discurso no Parlamento Europeu, dizendo que “não podemos permitir, e não vamos permitir, que os nossos valores comuns sejam postos em risco. A Comissão vai atuar”. Assim, a atuação europeia deu-se através da ameaça de não transferir os fundos do Plano de Recuperação e Resiliência dirigidos à Polónia, no valor de 36 mil milhões de euros. Por sua vez, o primeiro-ministro polaco advertiu que ia bloquear decisões importantes da UE. Deste modo, devido à escalada de tensão entre a União Europeia e a Polónia começaram a circular rumores de que um “Polexit” poderia estar iminente. No entanto, o primeiro-ministro polaco desmentiu essas histórias, garantindo que “88% dos polacos querem permanecer na UE”. “Estamos totalmente convictos de que a Polónia tem de ficar. Vamos defender fervorosamente a Polónia como membro da União Europeia”, declarou Mateusz Morawiecki. Na recente entrevista ao Financial Times, Mateusz Morawiecki, foi ainda mais longe e afirmou que caso a União Europeia inicie uma “terceira Guerra Mundial” com os bloqueios dos fundos comunitários, a Polónia iria “defender os nossos direitos com todas as armas à nossa disposição”, sendo que estas são armas legislativas, como o direito ao veto nas propostas europeias. Contudo, o porta-voz do Governo de Varsóvia, Piotr Müller, numa conferência de imprensa relativiza a situação, dizendo que o comentário do primeiro-ministro foi um exagero e que não deve ser interpretado à letra. Face a toda esta situação que se tem prolongado, no dia 27 de outubro, o Tribunal de Justiça da União Europeia condenou a Polónia a pagar uma multa de um milhão de euros por dia até que o país cumpra as obrigações estipuladas em junho deste ano, isto é, suspender a aplicação da legislação nacional relativas às áreas de jurisdição do Conselho Disciplinar do Supremo Tribunal da Polónia. A multa entrou em vigor no dia cujo pedido foi notificado ao Estado-membro em questão e é válida “até que esse Estado-membro cumpra as obrigações decorrentes do despacho de 14 de julho de 2021 ou, caso não o faça, até à data da prolação da sentença final”, tal como refere o comunicado oficial do TJUE. O ministro da Justiça polaco, Zbigniew Ziobro, já veio a público dizer que a Polónia “não pode, nem deve” pagar a multa diária, defendendo que “o Estado polaco, tal como qualquer cidadão, não deve obedecer a uma ordem arbitrária”. Artigo escrito por: João Múrias

  • Josh Cavallo assume homossexualidade e faz história no futebol

    O futebolista australiano Josh Cavallo, de 21 anos, marcou aquele que foi (talvez) um dos golos mais importantes da história da modalidade rainha ao tornar-se no primeiro profissional ativo a assumir, ao público, a homossexualidade. No mundo do futebol, em especial masculino, a homossexualidade continua a ser um tabu. Na quarta-feira, Joshua Cavallo, médio do Adelaide United, Austrália, rompeu este paradigma através de um testemunho histórico, que emocionou o mundo. O atleta confessa que escondeu a orientação sexual para se inserir no estereótipo do futebol, temendo um impacto negativo na carreira. "Há algo pessoal que preciso de partilhar com todos. Sou futebolista e sou gay", começou por anunciar o jogador, num vídeo intitulado Josh’s Truth e partilhado pelo clube australiano, Adelaide United, no Twitter. "Ao crescer sempre senti a necessidade de esconder quem sou. Tinha vergonha e medo de não poder fazer o que amo e ser homossexual. Tive de esconder quem eu era para perseguir um sonho que tenho desde criança", revela. O médio internacional sub-21 aspira por um tratamento igualitário. "Tudo o que quero é jogar futebol e ser tratado de forma igual a todos os outros", admite, reforçando que já está "cansado de manter uma vida dupla". O atleta frisa ainda não querer que mais jogadores sofram por isso. A "luta" contra a sexualidade durou "mais de 6 anos", mas, agora, Josh Cavallo orgulha-se de assumir o "seu eu autêntico". Falando de jogadores que "vivem no silêncio", o médio considera "surpreendente não haver futebolistas no ativo que se tenham assumido, não apenas na Austrália, mas no mundo". "Espero que isto mude num futuro próximo", remata. O mundo aplaudiu a coragem de Josh Cavallo. Uma onda de solidariedade banhou o futebolista, que recebeu apoio de vários jogadores e treinadores da liga australiana, assim como de personalidades, com as quais partilha o relvado, é o caso de Gerard Piqué, do Barcelona; e Antoine Griezmann, do Atlético Madrid. A reação positiva veio também do ex-basquetebolista espanhol Pau Gasol. O secretismo em torno da orientação sexual faz com que diversos jogadores e árbitros apenas se assumam quando abandonam o campo de forma definitiva. Alguns exemplos são Thomas Hitzlsperger, antigo internacional alemão; e Thomas Beattie, ex-jogador do clube inglês Hull City. Josh Cavallo marca um novo rumo na história do Desporto-rei, inspirando muitos jogadores que têm vivido silenciados e abrindo a porta à aceitação. O caminho para a normalização da homossexualidade no futebol ainda é longo, mas o pontapé de saída já foi dado. Artigo escrito por: Sara Arnaud

  • Visitas guiadas pelos recantos do Coliseu do Porto

    No ano em que celebra 80 anos, o Coliseu do Porto traz ao público, em conjunto com o Porto Secret Spots, um programa regular de visitas a um dos monumentos mais importantes da cidade invicta. O jornal Invicto teve oportunidade de conhecer os corredores e bastidores desta casa de artistas. Áudio e edição: Mafalda Barbosa e João Múrias Fotos: João Múrias Artigo publicado originalmente no jornal online JPN

  • Rússia corta relações com NATO

    Moscovo corta relações com a NATO após a expulsão de oito representantes russos serem suspeitos de espionagem. A relação entre a Rússia e a aliança transatlântica tem vindo a piorar. "A NATO é precisamente [a entidade] que não está disposta a dialogar em pé de igualdade”, afirmou o ministro de Defesa russo, Sergei Shoigu. A Rússia renunciou a todas atividades diplomáticas com a NATO após a aliança transatlântica ter expulsado oito diplomatas russos da sua sede em Bruxelas por suspeita de espionagem. Segundo o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, "esta decisão não está ligada a nenhum evento em particular, mas temos visto um aumento da atividade maligna russa, e por isso precisamos de estar vigilantes", lê-se na Reuters. Após uma diminuição significativa do número de cargos que a Rússia podia acreditar junto da organização, o país liderado por Putin acabou por terminar a ligação com a aliança transatlântica, bem como os respetivos escritórios de representação da organização em Moscovo. “No seguimento de certas medidas tomadas pela NATO, deixaram de existir as condições básicas para trabalhar em conjunto”, anunciou Sergei Lavrov, ministro russo dos Negócios Estrangeiros. “Se os membros da NATO tiverem alguma questão urgente, podem contactar o nosso embaixador na Bélgica.”, afirmou. A NATO já tinha procedido a uma ação do mesmo género, em 2018, após um incidente de envenenamento do antigo espião russo Sergei Skripal, que fez diminuir a representação da Rússia de 30 para 20 delegados. A deterioração das relações entre Moscovo e a aliança transatlântica tem vindo a ser cada vez mais evidente nos últimos anos, sendo motivo de preocupação a posição do país Russo por parte de vários líderes europeus. O porta-voz de Kremlin, Dmitry Peskov afirma que "há uma evidente incoerência nas declarações dos representantes da NATO sobre o seu desejo de normalizar as relações com o nosso país e nas suas ações concretas ". Sergei Lavrov acredita que o próximo passo para normalizar as relações com o país russo depende da NATO, apesar de considerar que a organização transatlântica não demonstra interesse na comunicação com o país russo. O secretário-geral da NATO anunciou que lamentava a decisão da Rússia, “que não promove o diálogo e a compreensão mútua”, mas que apesar de tudo “a política da NATO permanece coerente, inclusive através do Conselho Rússia da NATO”. O responsável realçou ainda que a aliança transatlântica está a proceder ao reforço da dissuasão e defesa, bem como a rever os progressos da resposta da organização “ao desafio dos sistemas de mísseis com capacidade nuclear da Rússia”. Artigo escrito por: Mafalda Barbosa

  • Cassete Pirata lança novo álbum: “Não é um disco de acusação, é um disco de esperança”

    A 21 de outubro, os Cassete Pirata plantaram no Maus Hábitos, o segundo disco "A Semente". A sonhar com um novo mundo, João Firmino contou, em conversa com o Invicto, todo o processo criativo que levou ao lançamento do novo disco conceptual. Unidos pelo jazz, a banda apresenta, na cidade do Porto, um álbum com "mais portugalidade". É ao fim da tarde, na sala de espetáculos dos Maus Hábitos, que se faz ouvir o soundcheck dos Cassete Pirata. João Firmino, vocalista da banda de indie rock, fez uma pausa para falar com o Invicto sobre o novo disco, lançado em outubro pela Rastilho Records. A apresentação d’A Semente decorre ao vivo numa tour que marca o regresso aos palcos. Regendo-se pela visão das três gerações – crianças, adultos e idosos – e pelas suas diferentes perspetivas sobre mundo, os Cassete Pirata optaram por dar, neste álbum, “um passo em frente na exploração das vozes” e apostar num disco conceptual. Formada em 2016 pela paixão de cinco amigos, a banda é constituída pelo vocalista e guitarrista João Firmino, pelo baixista António Quintino, pelo baterista João Pinheiro e pelas cantoras e teclistas Margarida Campelo e Joana Espadinha. Desde a escolha das suas canções para a série "Até que a vida nos separe", a banda de indie rock tem vindo a somar cada vez mais fãs. Para o futuro próximo, fica enunciado um desejo: “Entrar mais no circuito das festas académicas.” “A Semente” cruza 3 gerações e o olhar delas sobre o mundo atual. Que mundo é esse? João Firmino (JF): Neste disco, não tentamos fazer um retrato do mundo atual. É algo mais humilde: dar uma visão daquilo que poderia ser uma criança que de repente não pode estar a viver os dramas da adolescência normal; uma geração de meia-idade que se pergunta que semente é que vai plantar para, no futuro, os filhos poderem sonhar com outro mundo. E uma geração mais velha que vê o mundo como está, mas não se sente necessariamente culpada com isso. Não se foca nos culpados, mas no que é que a nossa geração pode e vai conseguir fazer para podermos sonhar com um mundo diferente, sem problemas. "Não é um disco de acusação, é um disco de esperança." Qual a importância de colocar esses problemas no disco? JF: Foi um processo natural que tem a ver com as bandas e os artistas que gosto. Todas as minhas influências sempre quiseram falar sobre o caminho que o mundo está a tomar. Há muito tempo que já tinha vontade de experimentar fazer um álbum conceptual, que tivesse uma história que unisse todas as canções de uma forma coerente e não forçada. Fazer mais um exercício artístico do que um exercício comercial de conseguir provar-me na indústria. Foi mais eu a ser chamado para falar sobre isto do que propriamente estar a forçar. Se tivesses de distribuir as canções por gerações, qual é que era qual? JF: Isso é estar a abrir o livro. O que posso dizer é que não é taxativo, a piada é quem ouvir tentar descobrir. Se calhar há umas canções mais óbvias, mas há outras que podem ser até interpretadas pelas três gerações de uma maneira diferente. Um artista que eu gosto muito, o Rodrigo Amarante, diz sempre que para nós, que escrevemos a música, no dia em que ela é feita, ela deixa de ser nossa e passa a ser de quem a ouve. Na minha curta carreira como autor de canções, é muito fixe quando alguém tem uma interpretação completamente diferente da canção que tu fizeste e que é igualmente válida e rica. O que distingue “A semente” do vosso primeiro disco “A montra”? JF: É um disco que tem mais portugalidade. Tem um tom mais de observador, de pôr o dedo na ferida. Isto obrigou-me a abordar a língua de maneira diferente. Neste disco, há um discurso mais direto nas letras. Também na questão das melodias, talvez por necessidade desse discurso mais direto, a maneira como a minha voz aparece está quase como aquela voz ancestral, a solo, como os cantares populares. É um disco mais pesado do que o outro e em que demos um passo em frente na exploração das vozes, principalmente das meninas. O processo de criação e produção do disco foi fácil? JF: Para mim não foi nada fácil, porque de repente ficamos todos confinados. De todos os trabalhos que já fiz, foi o mais desafiante. A pré-produção foi feita à distância, cada um em sua casa ia gravando a bateria, o baixo …. Estivemos todos a patinar na saúde mental e, honestamente, compor um disco não era algo que me apetecia estar a fazer naquele momento. Por outro lado, sinto que ele ganhou por estar nessas circunstâncias. Como está a ser dar vida ao álbum nos palcos? JF- Está a ser uma maravilha. Estivemos durante algum tempo com concertos em que as circunstâncias não eram muito naturais para uma banda de rock, ou seja, as pessoas estarem sentadas, de máscara, toda a gente com um ar aflito de incumprir alguma regra. Portanto, agora poder voltar é maravilhoso, as pessoas estão com uma fome brutal de concertos e isso sente-se no olhar da malta. Atualmente, há alguma dificuldade em formar uma banda, principalmente de jazz e indie rock, em Portugal? JF: Portugal é um país muito pequenino que não exporta muita música, sem ser o fado. Num mundo em que, cada vez mais, se começa a viver de redes sociais e plataformas de streaming e já não se vendem CDs, acho que a dificuldade é essa. Mas também sinto que neste meio quem faz as coisas, faz porque ama muito e não se vê a fazer outra coisa. Quanto ao jazz, nunca entendo como está em termos de pulso, se está mais vivo ou mais morto. Portugal é um país onde ainda há muito por fazer pela cultura. Claro que precisamos de investimento, mas também precisamos de educar as pessoas para consumirem a cultura portuguesa. De facto, é preciso muito amor e resiliência. Têm projetos separados, qual foi a motivação para se juntarem? JF: A motivação foi um ato egocêntrico de querer fazer as minhas canções. Já os conhecia a todos de diferentes projetos e foi esse o mote para sentir que gostava de ter as minhas canções e fazer a minha banda. Nunca quis estar naquele lado isolado de ser um autor em nome próprio. Chamei-os, porque são excelentes músicos, mas principalmente porque são ótimas pessoas. A cumplicidade é difícil de se explicar e, nesse sentido, somos uma banda muito cúmplice, funcionamos como uma família que gosta muito de estar na estrada. A série “Até que a vida nos separe” recorreu a várias músicas do vosso primeiro álbum “A montra”. Sentem que ganharam mais reconhecimento do público após a estreia da série? JF: Sim, sem dúvida. Estamos a voltar aos concertos e isso sente-se. Agora começa a aparecer malta que nunca tínhamos visto antes nos concertos e que vieram através da série. "A televisão continua a ser muito decisiva para as bandas. Ainda por cima a série estava com muita qualidade, então ainda mais orgulhosos ficamos de unir as nossas canções àquele trabalho." A escolha das músicas para a série balançou com a pandemia e o facto de não puderem dar concertos? JF: Completamente. Eu lembro-me perfeitamente de estar de férias e ser muito deprimente olhar para a agenda e ver as datas que estaríamos a ter. Trouxe um equilíbrio na parte emocional. Tivemos uma oportunidade altamente. Ainda por cima as músicas já estavam gravadas, ou seja, não houve aquela pressão e necessidade de ir para o estúdio gravar à pressa. É uma felicidade brutal as músicas parecerem que tinham sido feitas para a série. Têm algum palco específico que ambicionam pisar? JF: Gostava de poder entrar mais no circuito das festas académicas, pelo tipo de banda que somos e pelo tipo de som que fazemos. Acho que ia casar bem. O natural é quereres fazer o que ainda não fizeste e quanto maior, melhor. Qual é o futuro próximo para os Cassete Pirata? JF: É desafiante este início em que continuo a ser músico como sempre fui, mas agora sou músico e sou pai. Honestamente, eu quero descansar da pressão de ter de escrever um disco novo. Por outro lado, estou cheio de vontade de o fazer. No próximo ano, vou começar a pensar, com calma, o que é que vou fazer para o terceiro disco. A ideia com que esta banda começou mantém-se: é ir resistindo e continuar a fazer discos bons. Artigo escrito por: Inês Cristina Silva e Sara Arnaud Fotos: Inês Cristina Silva Artigo publicado originalmente no jornal online JPN

  • Portugal Fashion: a sustentabilidade no futuro da moda

    Maria Gambina e Katty Xiaomara, duas presenças assíduas no Portugal Fashion, iniciaram o último dia do evento. Ao início da tarde, os holofotes ficaram virados para o projeto social, (Re)Veste. O último dia da 49º edição do Portugal Fashion arrancou no cais da Alfândega com o desfile de Maria Gambina. Para a nova coleção, a designer viajou até ao passado e inspirou-se nas memórias das férias que tinha na praia do Furadouro, em Ovar, com os pais e a irmã. Ao Invicto, Maria Gambina revelou que a coleção “tem mais a ver com referências táteis e sensoriais do que propriamente visuais”, deixando-se influenciar pelo “paladar do gelado Epá e dos chocolates Regina” que comprava durante os meses de verão. A paleta de cores usada continua a ligação ao imaginário criativo da designer, estando presente “o azul da arca da senhora que vendia bolos na praia, o vermelho e amarelo dos fatos dos nadadores salvador e o branco do senhor que vendia as bolachas americanas”. A banda sonora do desfile foi fora do vulgar, mas dentro do tema. Em vez de música de fundo, o que se ouvia eram os sons característicos de um dia de praia: as gaivotas, o mar e as conversas entre as pessoas. A manhã encerrou com a apresentação da coleção “Funambulando La Vida” de Katty Xiomara, ao som do maestro Rui Massena e da narração de um texto de Philippe Petit, conhecido por ter atravessado as Torres Gémeas em cima de uma corda de aço. A música suave combinava com a coleção da designer, que a criou sem ter uma estação pré-definida. Katty Xiomara inspirou-se na ideia de equilíbrio numa corda bamba, sendo uma clara referência à necessidade humana de equilibrar a vida, sem cair para os lados. Assim, as peças procuram uma estabilidade no meio de contrastes entre os tecidos simples e volumosos e os padrões homogéneos e complexos. A moda enquanto veículo motivacional Às duas da tarde, a passarela foi cedida ao (Re)Veste, um projeto de intervenção comunitária promovido pelo centro social de Soutelo, em Rio Tinto, Gondomar. A iniciativa visa a inclusão social de jovens e adultos, entre os 15 e 35 anos, portadores de deficiência e/ou doença mental. O objetivo é promover e facilitar o desenvolvimento de competências sociais, pessoais, digitais e profissionais, através da dinamização de oficinas, como a de customização de roupa e a de literacia digital. Deste modo, a moda entra nesta equação enquanto “veículo motivacional para esta transformação [social]”, referiu Mariana Eugénio, coordenadora do projeto, em declarações ao Invicto. Segundo a coordenadora, a materialização de peças de roupa incentiva o trabalho de desenvolvimento pessoal dos participantes que, por si só, é “bastante abstrato”. A sustentabilidade ambiental e a economia circular são duas bandeiras do projeto (Re)Veste que cria as suas coleções com roupas excedentes de empresas parceiras, atribuindo-lhes uma nova vida e combatendo o estigma de roupa em segunda mão. Para Mariana Eugénio, a presença no Portugal Fashion, é uma oportunidade “extraordinária e fantástica”, dado que “não existem realmente muitos jovens e adultos com este tipo de diagnóstico a apresentar coleções, especialmente em grupo”. A coordenadora ainda refere que a apresentação da coleção é uma vantagem, não só para o projeto, mas para toda a comunidade e sociedade, pois esta está “a sair, um pouquinho, da caixa”. No final do desfile, a habitual e merecida salva de palmas estendeu-se a toda a equipa que colaborou na elaboração das peças e que assistiu orgulhosamente, a partir da primeira fila. O (Re)Veste despediu-se com a certeza de que a sustentabilidade e a inclusão são o futuro da indústria da moda e não uma simples trend. Artigo escrito por: Inês Cristina Silva e João Múrias Fotos: João Múrias Artigo publicado originalmente no jornal online JPN

  • Portugal Fashion: um "refresh" da moda africana

    Portugal Fashion arranca para a 49º edição com a apresentação de diversas coleções de designers portugueses. A grande novidade de este ano: a presença de criadores africanos, uma nova iniciativa promovida pelo CANEX. No segundo dia do maior evento de moda português, foi altura de mostrar o trabalho de novos criadores que estão a surgir com força no panorama nacional e internacional. Apesar de maior parte dos designers presentes serem portugueses, o Portugal Fashion (PF) abriu as portas, este ano, a 20 designers africanos, uma parceria que pertence ao Programa Nexus Creative Africa (CANEX) do Afreximbank. Na quarta-feira (13), a Alfândega do Porto abriu a "passarela” com as coleções de três designers africanas do CANEX integradas no BLOOM: Anissa Meddeb, da Tunísia, com a marca Anissa Aida; Doreen Mashika, da Tanzânia e Mahlet Afework, da Etiópia, com a marca Mafi Mafi. Dar palco ao talento de designers africanos tem como objetivo criar pontes de investimento no design e na indústria têxtil entre os dois pontos do globo. A troca recíproca entre o continente africano e Portugal cria uma relação win-win: dar a oportunidade aos designers africanos de produzirem as suas criações em Portugal e possibilitar às empresas portuguesas a partilha do seu conhecimento, investir além-fronteiras, ganhar compradores e, posteriormente, financiamento. Doreen Mashika, criadora da marca com o mesmo nome, acredita que esta ligação entre África e Portugal tem existido desde sempre e que esta parceria se trata apenas de “um lembrete de que precisamos de continuar juntos e trabalhar juntos a um nível diferente”. A tanzaniana fala de que a cultura africana tem estado sempre presente no sangue português e que Portugal possui uma história que “precisa ser continuada e retratada de uma forma bonita como é hoje”. O benefício de estar em Portugal parece ser óbvio: os materiais e a manufatura são dos pontos mais fortes que os designers internacionais realçam. “Acho que uma grande vantagem é a manufatura, o tecido, o know-how, definitivamente é [algo] que África poderia trabalhar e os dois podem lucrar um com o outro”, afirma Doreen Mashika. Anissa Meddeb, criadora da marca Anissa Aida, afirma que se sente muito entusiasmada “por fazer parte da CANEX com todos estes talentosos designers africanos” e “estar incluída no evento no mesmo calendário que os designers portugueses”. Para a designer, Portugal floresce diversas vantagens no mundo da moda. O país apresenta várias oportunidades para a produção das suas criações devido ao “excelente trabalho de couro tradicional e produção de sapatos”. “Faz parte da Europa, mas é muito diferente de Paris, concentra-se num estilo mais mediterrâneo”, afirma Anissa, mostrando interesse em conhecer os profissionais das indústrias nacionais e encontrar fábricas de produção. O alinhamento do segundo dia de PF também contou com Vítor Dias, vencedor do concurso de Eco Design organizado pelo Famalicão Cidade Têxtil; no Bloom Upload, os talentos emergentes Huarte, Rita IBS e Ahcor; Maria Carlos Baptista e Marcelo Almiscarado, vencedores do último BLOOM; por fim, a apresentação de Ariev. Artigo escrito por: Mafalda Barbosa e Sara Arnaud Fotos: Mafalda Barbosa Artigo publicado originalmente no jornal online JPN

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