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  • Foto do escritorMafalda Barbosa

Vitória de esperança e amargura para o PSD

Atualizado: 7 de jan. de 2022

No horizonte de Rui Rio encontramos a esperança (e crença) de uma mudança da política portuguesa nas próximas eleições legislativas, a final de janeiro. Contudo, dentro do próprio partido encontra dirigentes políticos insatisfeitos.

Rui Rio, Congresso PSD. Foto: Lusa

Rui Rio foi de novo a aposta para a presidência do partido social-democrata. Nas eleições diretas do PSD, o presidente foi reeleito para o terceiro mandato. Apesar do favoritismo dos media para o seu opositor, Paulo Rangel, o mesmo só conseguiu obter 48% dos votos, em oposição aos 52% de Rui Rio.


O PSD avança assim para as próximas eleições legislativas a cargo de Rui Rio, que aparenta ser a melhor oportunidade para derrotar António Costa. A confiança vem do próprio presidente, que assegurou em frente a todos os militantes que iria ganhar a 30 de janeiro. “Temos um grande desafio pela frente que é ganhar as eleições legislativas (...) para mudar de governação”, afirmou.


Os distritos que favoreceram o atual presidente foram Aveiro, Braga, Bragança, Faro, Leiria, Porto, Santarém, Viana do Castelo, Viseu, Évora, Açores e Madeira. No que toca ao seu opositor, Rangel tinha conseguido vencer em Beja, Castelo Branco, Coimbra, Guarda, Lisboa Área Metropolitana, Lisboa Área Oriental, Portalegre, Setúbal, Vila Real, Europa e Fora da Europa.


“Encaro esta vitória como todas as outras com sentido de responsabilidade e o apoio que me dão hoje é uma alegria, mas amanhã é uma responsabilidade que eu tenho comigo”, afirmou. A responsabilidade do social-democrata passa por “construir um Portugal melhor”, o que significa reconhecer a necessidade de haver uma mudança no panorama político português.

Fala de um governo que carece de rigor, mas está repleto de “facilitismo”. “É o rigor que nós temos de imprimir na governação que nos pode levar a um país mais desenvolvido”, defendendo a importância de afastar o nosso país da “cauda da Europa”.

Enumerou diversas problemáticas a serem resolvidas, focando na urgência em produzir mais riqueza de modo a reduzir o endividamento. Reforça que o governo deve modernizar os serviços públicos, realçando a adversidade que se tem vindo agravar no Serviço Nacional de Saúde. “A degradação que tem tido o Serviço Nacional de Saúde tem de ser invertida e nós temos de ter um governo capaz de dar aos portugueses a segurança que eles precisam na sua saúde”.

Sublinha que existe um abuso da carga fiscal, frisando uma única dualidade possível: “o país ou paga menos impostos ou tem melhores serviços”. Também a regionalização teve lugar no discurso do antigo presidente da cidade invicta, realçando a necessidade “de um país mais descentralizado, mas para fazer um país mais desconcentrado, temos de conseguir na Assembleia da República os votos necessários para o fazer.”

Rio cortou mas ganhou


Purga“, “perseguição” e “falta de cultura democrática”, foi assim descrita a atitude de Rui Rio quanto à formação das listas. O Conselho Nacional do PSD, em Évora, foi marcado por uma forte controvérsia, devido à alegada exclusão da maioria dos apoiantes de Rangel. Dentro portas, os apoiantes do mesmo deixaram claro que não queriam boicotar o processo eleitoral e as listas foram aprovadas com 67 votos a favor, 21 contra e 6 abstenções.


Foi uma vitória importante para o atual presidente do PSD. Apesar das controvérsias, descreveu este Conselho Nacional como “mais pacífico do que o normal”, com intervenções que “foram quase todas de pessoas que não estavam na lista”, lê-se no Observador.


No que toca às listas, João Moura - presidente distrital de Santarém - é o único nome que permanece a bordo do Expresso Rio. Nomes de dirigentes distritais como Cristóvão Norte (Faro), Pedro Alves (Viseu), Alberto Machado (Porto), Carlos Peixoto (Guarda) ou Paulo Leitão (Coimbra), foram riscados pelo presidente do partido ou mesmo colocados em lugares não elegíveis.


Já no que toca aos líderes de concelho, Cancela Moura (Gaia) e Alberto Fonseca (Trofa) também foram excluídos. Fora do anel de líderes, nomes como Duarte Marques e André Neves foram castigados. João Moura afirma ter recebido indicações para não incluir Duarte Marques na indicação das listas, embora o mesmo tenha sido indicado para concelhias. O antigo candidato à liderança da JSD de Aveiro, André Neves, estava indicado para distrital, mas não assegurou o lugar.


“Meu caro Rui, desta vez, foste longe demais"


Desde do início que o líder social-democrata foi alvo de críticas quanto à sua posição na formação das listas. Numa auto-avaliação, garante que não realizou nenhuma “limpeza étnica”, como se havia referido no início da discussão, afirmando que existem “diversas etnias presentes nas listas”, que formam uma composição “multicultural", lê-se no Observador.


Apesar do procedimento eleito para formação das listas ter sido considerado um “saneamento político”, Rio quis deixar claro que o uso de lealdade como escudo não foi usado contra quem apoiou Rangel, mas o que avaliou foi o “comportamento ao longo do tempo". Além disso, reconhece que incluiu dirigentes políticos que nem sempre estiveram a seu lado, uma vez que “unidade não é unanimidade". “Há casos de pessoas que não estiveram comigo agora e até que nunca estiveram. Não vou apontar casos, mas procurem, que encontram”.


Paulo Rangel. Foto: João Porfírio, Observador.

Paulo Rangel demonstrou-se desde cedo muito crítico da atitude de Rio quanto à formação das listas. Inclusive, o eurodeputado acusou o atual presidente do PSD de se mostrar disponível para um compromisso com o país, mas não com o próprio partido. Anteriormente, numa entrevista à CNN, Rui Rio havia afirmado que iria dar prioridade a quem lhe tivesse sido sempre fiel. Rangel contestou o discurso, afirmando que “não estamos num exercício de moral, mas num exercício político”.


Praticamente não vejo quase ninguém que me tenha apoiado nas listas“, refere ainda. Denunciou a atitude de Rio na relação com o partido social, afirmando que “estende as mãos e os braços ao PS e depois internamente não tem esse espírito de compromisso“.


“Meu caro Rui, desta vez, foste longe demais", começou Pedro Pinto, o ex-líder distrital da capital, relembrando o líder social-democrata que é ele o responsável pelo crescimento de partidos como o Chega e o Iniciativa Liberal. Os dirigentes políticos excluídos realizaram uma forte crítica ao papel de Rio na construção das listas, sendo que o líder distrital do Algarve considerou as mesmas como um “diktat” que não possui tradição dentro do partido. Cristóvão Norte dirigiu-se ao presidente do PSD, com um pedido: “Se ganhar as eleições, não faça um Governo assim“, lê-se no Observador.


Também Pedro Esteves, diretor de campanha de Rangel, deixou umas palavras na rede social Twitter, que expressam o seu descontentamento. "Nos partidos custa-se mais a conviver com os que deles fazem parte do que a agir contra os que a eles se opõem". Escrito há mais de 350 anos por Jean Retz e tão actual no PPD/PSD”, escreveu.


Rui Rio reconhece que sabia que iria existir uma liga de “pessoas descontentes” com as listas para a Assembleia de República, mas o mesmo não considera que existam confrontos dentro do próprio partido, apesar de o mesmo ter virado “as listas de cima para baixo”, como acusou Cristóvão Norte.


O que se passou no Congresso?


O Congresso do PSD, que se realizou em Santa Maria da Feira, delineou Pinto Luz como o adversário interno de Rui Rio, que obteve o segundo lugar ao concorrer para Conselho Nacional. Concorreram onze listas, sendo que a lista do presidente social-democrata, encabeçada por Pedro Roseta, saiu como vencedora com 187 votos.

Na eleição para Tribunal, a posição continua a ser assegurada Paulo Colaço. Foi no nome Nuno Morais Santos que Rui confiou, mas o mesmo acabou por perder com 390 votos face aos 442 de Colaço. Já na Mesa de Congresso, a vitória foi de Paulo Mota Pinto.


É possível afirmar que o líder social-democrata manteve a estrutura a seu favor. Apesar da Comissão Política Nacional (CPN) ter sofrido algumas alterações - os vice-presidentes Isabel Meirelles e Morais Sarmento retiram-se, e entram Ana Paula Martins e João Pais de Moura -, a CPN encabeçada por Rio foi aprovada por 67,6% dos congressistas.


No discurso de encerramento, o presidente do partido fala em querer “cumprir Portugal” “Encaro como fundamental para o futuro de Portugal o diálogo político”, proclamou. “Inventar diferenças para lá das que existem é inútil para quem coloca os interesses do país à frente dos do seu próprio partido”.


Também esteve presente Paulo Rangel, que confessou ao jornal Observador, ter“uma missão muito especial de contribuir para a unidade” do PSD. O eurodeputado tomou a decisão de não integrar nenhuma lista adversária à de Rio, uma vez que acredita que esta atitude terá um peso “simbólico” e dará um “sinal muito claro” de que o partido está concentrado “no grande objetivo que é ganhar as eleições de 2022", revelou ainda.


Parte assim Rui Rio para as eleições legislativas com uma certa confiança de mudança no panorama político português. Quando questionado sobre uma possível coligação com o CDS, o líder do partido revela que a comissão política “considera mais vantajoso para o PSD, nestas eleições em concreto, ir sozinho, porque consegue melhores resultados”. No entanto, fica à espera que o CDS consiga uma bom resultado



Artigo escrito por: Mafalda Barbosa



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