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É ver o vírus passar...

Atualizado: 19 de jan. de 2022

O vírus pode ser invisível, mas a desigualdade social é evidente de forma gritante nos países mais pobres.

Foto: Dado Ruvic/ REUTERS

Não, não se preocupem. Este não é mais um artigo sobre como o vírus avassalou as nossas vidas. Como, de forma direta, se apoderou da nossa palavra e do nosso corpo. Se intrometeu nas nossas relações. Este artigo é sobre um outro tema que também confere medo, que pode abanar a cápsula de vidro que coabitámos. Um tema em que alguns também discordam que seja real, até invisível para os que se esforçam em ignorar, mas não ausente: a desigualdade social.


Quando vem à mesa a temática da covid-19 – e as vezes não são poucas – parece-me que a maioria das pessoas já se habituou a usar máscara na rua, tanto que por vezes estou em casa e ainda dou por mim com ela. Contudo, não deixo de ouvir falar na injustiça que é levar uma vacina que no final “não resultou”. Não sei se será efeito secundário, mas percorre-me nas veias uma raiva miudinha assim que ouço alguém dizê-lo. Vamos lá analisar porquê.


É necessário reconhecer que o esforço para encontrar uma arma contra o vírus foi notável e de extrema importância. O tempo e a cooperação internacional ajudaram a mobilizar vacinas em menos de dois anos de pandemia. Quando olhamos para o número de mortes pelo vírus, percebemos que talvez “inútil” não será o melhor adjetivo para descrever o papel desta arma contra a covid-19.


No entanto, a existência de vacinas fez com que, de modo agressivo, se evidenciasse ainda mais o fosso de desigualdade entre países desenvolvidos e não-desenvolvidos. Está registado que pelo mundo, já 58% da população foi vacinada com, pelo menos, uma dose. Quando olhamos para a União Europeia, a taxa é de 73%. O grupo dos países mais desenvolvidos do mundo (G7) têm taxas de vacinação iguais ou superiores a 73%. Na América do Sul atingiu-se já os 76% e na Ásia 66%. Todos estes países, regiões ou continentes ultrapassaram a meta de 40% de pessoas vacinadas até ao final deste ano fixada pela Organização Mundial de Saúde (OMS).


O mesmo não se pode verificar no continente africano, em que apenas 9% da população teve acesso a vacinação completa. O vírus pode ser invisível, mas a desigualdade social é evidente de forma gritante nos países mais pobres. A falta de organização e financiamento faz com que se torne difícil o acesso às vacinas, enquanto que por cá se fala da falta de organização nos centros de vacinação, de um procedimento dado gratuitamente.


O aparecimento da variante Ómicron é, possivelmente, um acontecimento feliz para os habitantes africanos. Enquanto que o mundo se revolta uma vez mais dos confinamentos forçados, os grandes líderes mundiais passam a perceber que se a vacinação não for uma ação igualitária, o vírus procederá a evoluir e a mutar-se continuamente.


Citando o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus: “Quanto mais deixamos que a pandemia se perpetue, ao não impedirmos as desigualdades no acesso às vacinas ou não adotando medidas sociais e de saúde pública de maneira apropriada e consistente, mais daremos a este vírus a possibilidade de ter uma mutação que não podemos prever nem impedir".


Com certeza que esta divisão clara de privilégios não é de agora (nem permanecerá no passado), mas desta vez, como o impacto da injustiça social nos começa a afetar a todos, talvez exista uma ação global mais forte para lutar contra a mesma.

Artigo escrito por: Mafalda Barbosa



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