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Editorial: E assim nasce mais um…

Atualizado: 19 de jan. de 2022

A grande questão é como, num dos momentos mais vulneráveis e naturais da vida humana, alguns profissionais de saúde conseguem despir-se de qualquer tipo de sensibilidade perante uma nudez tão fragilizada.


Grande parte dos problemas sociais em Portugal provêm dos ideais retrógrados intrínsecos na nossa sociedade. Em pleno século XXI, os portugueses ainda acreditam que o discurso dos profissionais de saúde, nomeadamente dos médicos, é inquestionável. Tal deve-se, sobretudo, ao pensamento ignorante de que a medicina é um curso somente para seres extraordinários e, portanto, tudo o que fazem e/ou dizem é incontestável. O prefácio é simples: eles sabem o que estão a fazer.


O receio dos cidadãos em contestar e dizer que “não” aos profissionais de saúde é compreensível. Todos os dias há milhares de vidas que dependem deles. Ao longo da sua carreira deparam-se com uma enchente de doenças numa maré de pessoas. É legítimo questionarmo-nos se este ofício acaba por os tornar indiferentes a todos aqueles que passam pelas suas mãos. Na realidade, o indivíduo comum não deixa de ser só mais um sopro na efemeridade da vida.


Recentemente, começaram a surgir vários testemunhos de mulheres sobre a violência obstétrica a que foram sujeitas, nomeadamente, durante a gravidez e o parto. Destaca-se a violência física, com recurso à força, acompanhada de um conjunto de intervenções obsoletas, originais de uma sociedade machista e patriarcal. É necessário realçar ainda a forte agressão psicológica que se faz sentir, com uso de linguagem rude, ameaças, omissão de informação e a ausência de consentimento exposta pelas vítimas.


A grande questão é como, num dos momentos mais vulneráveis e naturais da vida humana, alguns profissionais de saúde conseguem despir-se de qualquer tipo de sensibilidade perante uma nudez tão fragilizada. Enquanto cidadãos é fulcral interrogarmos os médicos, de modo a compreender a razão que está por detrás destas ações.


O número de testemunhos vai aumentando, porém, a Ordem dos Médicos continua a negar a violência obstétrica em Portugal – apesar de alguns já terem confirmado a sua ocorrência – considerando que é um problema de Terceiro Mundo. O peso da mentira ou está nos ombros de todas as mulheres que decidiram contar a sua história ou na Ordem dos Médicos que não quer manchar a sua imagem.


Ainda há muito para discutir sobre esta luta que ganha cada vez mais visibilidade. As consequências que esta violência provoca são incontornáveis na vida da vítima, causa uma cicatriz que perfura o corpo e a alma que esconde, com vergonha, um grito ensurdecedor.


O pilar que sustenta a relação mãe e filho estremece a partir da base, embalando a família num sofrimento atroz. Em termos de jurisprudência, o conceito de Violência Obstétrica não é reconhecido, não existindo assim condenações em Portugal.


Este ambiente abusivo é alimentado pelo patriarcado e também pelos próprios profissionais de saúde. Sentem a responsabilidade de não poderem falhar para com os portugueses, ao ponto de se recusarem a admitir a existência destas práticas e preferirem fazer dos testemunhos um enorme leque de mentiras.


É imperativo e urgente denunciar este problema que a Ordem dos Médicos tenta exaustivamente encobrir. Só se afoga na violência quem não sabe nadar a favor da corrente de humanidade. Ser honesto num mar de futilidade é algo audaz e permite navegar para melhores portos.



Por Jornal Invicto

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