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  • Foto do escritorSara Arnaud

África paga a fatura de desastres climáticos

Atualizado: 19 de jan. de 2022

Secas, inundações e tempestades intensas já são comuns aos olhos de milhões de africanos. Os 54 países do continente africano são os que menos contribuem para o aquecimento global, mas são os que mais sofrem com as consequências. O relatório das Nações Unidas, publicado em outubro, fala de uma África vulnerável e desproporcional.

Fonte: Getty Images

O continente africano representa menos de 4% das emissões de gases com efeito de estufa. As terras agrícolas particularmente expostas à seca, as cidades cingidas na costa e a pobreza generalizada, dificultam a adaptação, prevenção e resposta do continente a eventos extremos do clima. Segundo o relatório do Painel das Nações Unidas, África tem em vista um quadro terrível para a capacidade de se adaptar a alterações climáticas cada vez mais recorrentes.

"Durante o ano 2020, os indicadores climáticos em África caracterizaram-se por um aumento contínuo da temperatura, subida acelerada do nível do mar, fenómenos climáticos e meteorológicos extremos, tais como inundações, deslizamentos de terras e secas, e impactos devastadores associados", lê-se no relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM).

No mês de dezembro, o grito de alerta para a urgência de ação voltou a ser dado. Desta vez, a seca extrema e prolongada matou dezenas de girafas no Quênia. A imagem aérea, que chocou o mundo, mostra seis girafas sem vida, devido à falta de água. No país do leste de África, os animais ficaram presos na lama enquanto tentavam beber de um reservatório quase seco.


Crise humanitária no setor agrícola

No último ano, a temperatura do continente africano subiu mais rápido do que a média global. 2020 posiciona-se entre os anos mais quentes de sempre registado no continente. A crise climática global agravou a seca e está a levar as comunidades africanas ao limite.

Num continente massivamente dependente do setor agrícola, a intensificação da seca aumenta a insegurança alimentar e empurra milhões de pessoas para a fome aguda. Em setembro, o presidente do Quénia, Uhuru Kenyatta, salientou que a seca devastadora afeta as colheitas do país e põe cerca de dois milhões de quenianos em risco de passar fome.

Em Madagáscar, um milhão de pessoas ficaram sem alimentos, o que espoletou uma crise humanitária. Já vulnerável aos impactos do aquecimento global, a agricultura sofre ainda com a pandemia de covid-19, invasões de gafanhotos e conflitos em torno dos poucos recursos existentes.



“Até 2040, os glaciares de África poderão desaparecer”

Com isto, também as massas de gelo dos raros glaciares africanos serão afetadas. O relatório divulgado pelas Nações Unidas no mês de outubro alerta que, se nada for feito, os três lendários glaciares deixarão de existir nas próximas duas décadas.

Os três blocos de gelo tropicais da África Oriental — o monte Kilimanjaro da Tanzânia, o monte Quénia e as montanhas Rwenzoris do Uganda — são de grande importância para o turismo e para a ciência, mas a previsão é que derretam até 2040.

Na introdução do relatório, Petteri Taalas, secretário-geral da OMM, reforça que "o rápido derretimento dos últimos glaciares na África Oriental, que se espera estar completo num futuro próximo, alerta-nos para uma mudança iminente e irreversível no sistema terrestre".


Comunidades costeiras com risco a inundações

Na última década, observou-se um crescimento, sem precedentes, nas chuvas anuais. Estando ligadas diretamente à forte precipitação, o aumento do nível do mar e a erosão da costa estão a afetar e ameaçar várias comunidades costeiras. A costa do Oceano Índico é o local mais crítico.


No Quénia, as inundações no total dos oito lagos no Vale do Rift, forçaram milhares de quenianos a abandonar as suas habitações e locais de trabalho, alguns já foram obrigados a migrar para cidades vizinhas. Os especialistas destacam que, nos últimos 50 anos, não foi testemunhado algo deste tamanho.


Com a subida no nível do mar, as comunidades costeiras da Libéria assistiram à submersão das suas cidades. Para além disso, houve lagos a duplicar de tamanho, fazendo desaparecer casas, lojas, campos agrícolas, escolas, hospitais, quintas, igrejas, empresas, etc.


Segundo o relatório Groundswell Africa, divulgado nas vésperas da COP26, "até 2050, 86 milhões de africanos terão de migrar dos seus países". "Os impactos das alterações climáticas, como escassez de água, colheitas e produtividade menores nos ecossistemas, aumento do nível do mar e tempestades vão cada vez mais forçar as pessoas a migrarem, já que alguns sítios serão menos propícios por causa do calor, eventos extremos e perda física de terrenos", lê-se no documento.

Os africanos saem à rua em protesto. Lutam a favor do meio ambiente, por um planeta saudável e um futuro melhor. De África de Sul a Nigéria, de Namíbia a Uganda, milhares de jovens fazem-se ouvir, criticando a inação dos políticos no combate às alterações climáticas.

O movimento "Fridays for Future", que começou na Europa, faz-se ouvir no continente africano. Foto: Isaac Kasamani / AFP
"Precisamos de regressar à tecnologia verde"

A OMM acredita que o combate às ameaças que se avizinham faz-se através da rápida implementação de planos climáticos em África. É necessário investir "em infraestruturas hidrometeorológicas e em sistemas de alerta prévio" que vão formar mais empregos e, consequentemente, incitar o desenvolvimento económico afetado pela pandemia de Covid-19. Tudo isto sob a fórmula de uma "recuperação sustentável e verde do continente", sublinha a organização.

Contudo, os custos são avultados. "Globalmente, África necessitará de investimentos de mais de 3 biliões de dólares para mitigar e se adaptar a este processo até 2030". Segundo o secretário-geral da OMM, a implementação de estratégias de adaptação requer "fluxos significativos, acessíveis e previsíveis de financiamento condicional".

"O custo da adaptação às alterações climáticas em África aumentará para 50 mil milhões de dólares por ano até 2050, mesmo assumindo os esforços internacionais para manter o aquecimento global abaixo dos 2 graus Celsius", assinalou Petteri Taalas.


Apesar do aumento do impacto climático no continente africano, a diferença de participação entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento continua a existir. Atualmente, as vozes dos africanos têm menor representatividade, nas reuniões globais sobre o clima das Nações Unidas, em comparação com os países mais ricos.

Fonte: BBC

Artigo escrito por: Sara Arnaud


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