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Deixem o Porto em paz

Como estava a dizer, isto de colocarem atores de outras cidades a fazer o sotaque do Porto não dá com nada. O nosso "poum" é elegante, já o vosso, quando nos tentam imitar, vê-se claramente que é do dia anterior.

Ilustração: Maria João Faustino

Escabeche. Sempre tive o sonho de começar uma crónica com esta palavra. Porquê? Não sei. Mas se a minha tia pode almejar ir à Roda da Sorte, eu também tenho todo o direito a seguir os meus instintos. Isso e é uma palavra que me conforta. Escabeche.


Posto isto, queria lançar uma questão.


- Lança. – dizem vocês, em uníssono.


Assim sendo, eu lanço mesmo. Quem é que diz carago? Não é? Eu, pessoalmente, e assumindo que o que me dizem é verdade, nasci e fui criado na cidade do Porto. Posso até dizer que 99% dos meus amigos partilham da mesma condição. Inclusive o Paulo, que diz encarnado em vez de vermelho.


Mas sabem o mais engraçado? É que nunca nenhum deles disse carago. Pode ser um defeito auditivo meu, admito. Sempre que entra o outono, vejo-me à rasca com as otites. Se calhar o "carago" também é sazonal e eu é que ando fora dela. No entanto, lá está, nunca ouvi.


Pelo contrário, costumo ouvir uma palavrinha que rima com uma certa planta perene cujo bolbo, composto por folhas escamiformes, é comestível e usado tanto como tempero como para fins medicinais. Segundo o pequeno Saúl, é até algo que, geralmente, o bacalhau quer.


Quem realmente é do Porto, entende onde eu quero chegar. Nada contra quem é de lá de baixo, mas convençam-se que nós, de facto, não comemos tripas o ano todo. Nem francesinhas. Quer dizer, no meu caso, o segundo exemplo nem é assim tão bom. Sabe-me sempre bem, antes da sopa. Tipo entrada. No entanto, de um modo geral, não funciona assim.


Para além disso, não podia deixar de mandar uma alfinetada às telenovelas, no geral.

- Jura, também vês a Última Mulher?


Não, mas vi a Gabriela. Mais do que uma vez. Feito este parêntesis, se calhar voltava ao busílis da questão, não é?


- É.


Pois. Como estava a dizer, isto de colocarem atores de outras cidades a fazer o sotaque do Porto não dá com nada. O nosso "poum" é elegante, já o vosso, quando nos tentam imitar, vê-se claramente que é do dia anterior. Atenção! Eu gosto muito do vosso pão, principalmente o do Alentejo. Assim todo rústico. Era só ter um bigode consistente, um palito e um chouriço e estava pronto para apresentar o Telerural, mas nunca estarão à altura de um "poum".


Bistas vem as coisas, adoro ser do Porto. É muito giro. As pessoas são muito simpáticas. Muito acolhedoras. As paisagens são bonitas. Temos o Emplastro. Posso até dizer que quando estou no Porto, sinto-me em casa.


Menos se forem seis e meia e estiver de carro nos Aliados.


Nesse caso, salve-se quem puder.



Artigo escrito por: Luís Guedes

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